Servidoras do TJDFT com deficiência falam de experiências como mães

por SB — publicado 2018-05-03T16:55:00-03:00

Samira Ramos de Medeiros Elas são mães, trabalham, cuidam dos filhos e do andamento da casa, e são pessoas com deficiência que conseguiram, com criatividade e otimismo, vencer obstáculos e realizar o sonho da maternidade. Duas servidoras do TJDFT, Samira Ramos de Medeiros e Regina Célia Reis Barbosa venceram, respectivamente, os obstáculos impostos pela baixa visão e pela mobilidade reduzida e construíram famílias de quem cuidam e recebem o apoio necessário para transformar o dia a dia em uma grande aventura. No mês das mães, o TJDFT foi ouvir as histórias dessas servidoras.

Aos 33 anos, completados no dia em que recebeu a reportagem da Assessoria de Comunicação Social do TJDFT, 26/4, Samira é mãe de Maria Fernanda, 7, e Miguel, 1. Em decorrência de uma retinose pigmentar, tem hoje apenas 10% da visão e explica como lida com a limitação: “Quando a gente tem uma deficiência, a gente tem que pensar em outras formas, em formas diferentes de resolver as coisas, então, eu tive que pensar em coisas que eu jamais tinha parado para imaginar, como, por exemplo, trocar fraldas dos meus filhos. Uma pessoa que tem baixa visão, como vai fazer isso? Então o que eu fiz? Para facilitar a minha vida eu trocava com lencinho umedecido, eu uso mais lencinhos do que as outras pessoas, mas, assim, consigo fazer direitinho”.

Samira mora perto do local de trabalho, para onde se desloca com o uso de uma bengala ou mesmo usando aplicativo de transporte. Mudou-se para o endereço atual com o propósito de estar mais perto dos filhos e passar mais tempo com eles. Ressalta que a maternidade apresenta para ela, como para todas as mulheres, com ou sem deficiência, novos desafios que requerem adaptações e novas aprendizagens. “A gente não nasce preparada para ser mãe, independentemente de ter uma deficiência ou não. A maternidade exige que você pense diferente, exige uma mudança de paradigma e, com a deficiência, isso se apresenta de forma mais intensa. Então, a gente vai pensando (nas soluções) no momento em que as coisas vão se apresentando, é nesse momento que eu vou percebendo como que eu posso ir adaptando as tarefas para fazer tudo que meus filhos precisam, porque a verdade é essa: tem as dificuldades, claro, eu não posso negar, mas existem outras formas de fazer e aí eu vou descobrindo como é que se faz." “A gente não pode parar diante de qualquer dificuldade que aconteça”, explica. “A gente tem que tentar resolver. Claro, tem questões que eu não vou conseguir e que eu vou pedir auxílio de outra pessoa, mas antes de desistir, a gente tem que tentar."

Refletindo sobre sua vida após a maternidade, Samira diz que se sente muito realizada. “Para mim, ser mãe é a missão mais nobre que uma pessoa pode ter na vida e também a mais desafiadora. Quando a gente se torna mãe, a gente se descobre mais forte, mais criativa, porque tem que ter soluções criativas para as coisas que se apresentam. Agora, eu sou uma pessoa mais sensível, uma pessoa que pensa mais em ver o lado do outro."

Samira conta com a ajuda do marido Hudson que assume muitas tarefas e também com a parceria dos filhos que, desde cedo, mostram-se solícitos para buscar objetos “para a mamãe”. Para Hudson, “o excelente da Samira é que ela enxerga as coisas muitas vezes com os olhos do coração”. A pequena Maria Fernanda endossa a opinião do pai descrevendo a mãe como legal, carinhosa, atenciosa, alegre, tudo de bom.

No TJDFT desde 2005, Samira hoje atua como conciliadora e ressalta a importância das ações do Tribunal por meio do Núcleo de Inclusão, no sentido de promover a inclusão dos servidores com deficiência. Pontua, entre as ações do Tribunal, a aquisição de equipamentos adaptados, como um passo importante para que os servidores com deficiência possam desenvolver seu potencial, como é seu caso. Essa política institucional tem sido muito benéfica, segundo ela, e deve continuar, até alcançar todos os sistemas informatizados da Casa.

Regina CéliaRegina Célia também foi beneficiada pela inclusão. Com artrose no quadril que dificulta e limita seus movimentos, buscou e conseguiu trocar sua lotação para trabalhar em um setor no qual não precisa se locomover com frequência. “Pequenas distâncias que para as outras pessoas não são problema, são difíceis para mim,” explica, dizendo-se satisfeita em trabalhar na Escola de Formação Judiciária do Tribunal.

Em casa, Regina foi adaptando a vida para cuidar das filhas Ana Luísa, 4, e Emanuele, de 6 meses. “Ana Luísa me pediu para ensiná-la a fazer estrelinha, o que é impossível para mim, mas encontrei a solução mostrando vídeos para ela de pessoas fazendo o movimento.” Diverte-se, dizendo que cada descoberta daria para escrever um livro. Para cuidar da pequena Emanuele, Regina espalhou kits com material para troca de fraldas em vários locais da casa, no carrinho de bebê e até no carro.

Regina emociona-se falando de como a experiência de ser mãe modificou sua visão de mundo. “Nós, mulheres, somos muito aceleradas, mas eu tenho aprendido a desacelerar, a não querer tomar a frente em tudo e receber ajuda do Waldemar, meu esposo. Um dia, quando estava muito apressada, minha filha olhou para mim e disse: ‘Mãe, a senhora sabia que os adultos podem ser felizes?.’  Percebi que ela estava lendo minha fisionomia de pessoa apressada e interpretando como infelicidade. A gente precisa se policiar, curtir cada momento. A pressa de uma pessoa passa para suas relações. A maternidade trouxe essa reflexão de calma e de aprender a me colocar no lugar do outro." E é com esse aprendizado que Regina encara sua deficiência e se vê como mãe: “Eu não posso fazer tudo, mas, dentro da minha limitação, eu ofereço o meu melhor”.

O Núcleo de Inclusão, criado em 2009, é a unidade do TJDFT responsável por definir a política de inclusão e zelar pelo cumprimento da legislação vigente relativa à pessoa com deficiência, contribuindo para implementação de ações de acessibilidade na Casa. Atua de forma integrada aos demais setores, seguindo as diretrizes do Programa de Inclusão da Pessoa com Deficiência do TJDFT, regulamentado pela Portaria Conjunta 63/2015.