Programa de estágio abre caminhos para adolescentes vinculados à Vara da Infância e da Juventude

por SECOM/VIJ — publicado 2013-11-28T19:55:00-03:00

Muitas vezes, o que falta para um jovem sair da condição de vulnerabilidade é apenas uma chance. Desde 2009, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas ou sob medidas de proteção jurisdicionados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) estão tendo a oportunidade de mudar o rumo de suas vidas a partir de estágios proporcionados pela parceria firmada entre o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e órgãos superiores do Judiciário.

A seleção e o acompanhamento dos adolescentes inseridos no programa de estágio e inserção no mercado de trabalho são feitos pela VIJ, por meio da Rede Solidária Anjos do Amanhã. Os jovens desempenham atividades direcionadas e supervisionadas durante 20 horas semanais, visando à sua profissionalização, com direito a bolsa-auxílio e vale-transporte. O programa de estágio atende ainda à Recomendação nº 25 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Atualmente, 30 adolescentes são acompanhados em estágio na Vara de Execução Fiscal do DF (VEF), em vagas mantidas pelo TJDFT; outros cinco no Superior Tribunal de Justiça (STJ); mais quatro no Tribunal Superior do Trabalho (TST) e dois no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para esses jovens, o estágio representa muito mais que uma chance no mercado de trabalho. Suas falas revelam que a oportunidade lhes trouxe também novos aprendizados, o despertar de projetos para o futuro, a vontade de seguir nos estudos, novas amizades e a ampliação da sua visão de mundo.

Há dois anos no estágio, uma das estagiárias da VEF, hoje com 19 anos, conta que a experiência despertou sua vontade de ter um trabalho e estudar para concurso. A jovem destaca ainda a união, a comunicação e o bom relacionamento entre os servidores e os estagiários da Vara. A opinião é partilhada por outra estagiária, de 17 anos, que elogia o ambiente de trabalho. Há seis meses na VEF, a adolescente já pensa em cursar faculdade de Direito. “O trabalho faz a gente se sentir importante”, declara.

Também estagiário da VEF, um jovem de 18 anos afirma que nunca havia sido reconhecido nem tido a oportunidade que o estágio lhe trouxe. Segundo ele, o estágio no TJDFT, no qual está há um ano, foi um incentivo para continuar os estudos. “Aprendi muitas coisas para o futuro”, diz. O aprendizado proporcionado pelo estágio foi destacado ainda por outro adolescente, de 17 anos, há pouco mais de um ano na VEF. “Aprendi muito”, afirma. O jovem pensa em se preparar para concursos públicos.

Trocas e aprendizados

A juíza Soníria Rocha, titular da Vara de Execução Fiscal do DF, avalia como um sucesso a vinda dos estagiários para auxiliar no trabalho. Segundo a magistrada, graças aos adolescentes, foi possível colocar a autuação dos processos em dia. “Se a Vara está como está hoje, foi graças à ajuda deles”, reconhece. A juíza diz ser preciso não só pedir a atuação do Estado nas ações para a infância e a juventude, mas agir individualmente. “Todos temos a oportunidade e o dever de ajudar”, afirma.

A titular da VEF destaca a contribuição e o aprendizado mútuos entre estagiários e servidores em meio aos 386 mil processos em andamento na Vara. De acordo com a juíza, o espaço de trabalho é também um espaço de confraternização. “A troca é gratificante”, diz. Um ponto de destaque no estágio da VEF é que, além do trabalho, os jovens participam de ações educativas e voltadas à formação e ao exercício da cidadania. “Procuramos ainda promover o resgaste da autoestima dos adolescentes, bem como transmitir a eles princípios e valores humanos”, completa.

Outra preocupação da magistrada em relação aos jovens que estagiam na VEF é possibilitar que eles entendam a lógica e a importância do trabalho que executam, e não apenas o façam de forma automática. A eles é explicado, por exemplo, o trâmite do processo e a que se refere a dívida fiscal que está sendo executada, bem como o seu destino social. “Procuramos conscientizá-los a respeito do significado e da função de cada pessoa na sociedade”, acrescenta.

Seleção e acompanhamento

O diferencial do estágio voltado a adolescentes jurisdicionados da Vara da Infância e da Juventude é o processo de seleção e acompanhamento feito pela Rede Solidária Anjos do Amanhã, programa de voluntariado da VIJ. Conforme a servidora Adriana Lara de Brêtas Pereira, responsável por esse processo, a seleção do adolescente envolve toda sua rede social de referência. “Dessa forma, vincula-se não apenas o jovem ao seu plano de futuro mas também a sua família e o técnico que o acompanha na unidade de execução de medida socioeducativa, na instituição de acolhimento ou nas seções técnicas da VIJ”, explica.

O acompanhamento envolve reuniões periódicas, orientações e atendimentos individuais, além do acesso aos benefícios da Rede Solidária Anjos do Amanhã. De acordo com a servidora da VIJ, busca-se levantar reflexões importantes para os adolescentes e prepará-los para o rumo profissional – considerando que o estágio é temporário. Existe uma preocupação com a formação geral dos jovens, tanto do lado profissional quanto do pessoal. Por isso, são trabalhados também com os estagiários temas como a administração de finanças pessoais e questões de relacionamentos interpessoais.

Por meio do acompanhamento, é construído um vínculo com cada adolescente, a fim de que cada um seja atendido em suas necessidades. E esse processo de acompanhamento pode se estender após o término do estágio. “O jovem é acompanhado durante o período do estágio e, quando necessário, por certo tempo após o seu desligamento”, esclarece a servidora responsável pelo processo. No momento, quatro egressos do estágio estão sendo assistidos pela Rede Solidária Anjos do Amanhã com o objetivo de auxiliá-los a se estabelecerem em suas vidas profissionais.

Nesse trabalho de acompanhamento, a servidora ressalta também o importante papel dos supervisores que trabalham diariamente com os adolescentes, na sua orientação e formação, prestando uma assistência continuada aos estagiários no ambiente de trabalho e servindo de referência aos jovens. “O programa de estágio visa preparar os adolescentes para o futuro, possibilitando-lhes experiência de trabalho assim como aprendizados que servirão para a vida toda”, afirma a servidora da VIJ, que considera os supervisores imprescindíveis para o alcance desse objetivo.

Ainda segundo a responsável pela seleção e acompanhamento de estágio, a Rede Solidária Anjos do Amanhã presta assistência e orientação também aos supervisores dos estagiários, a fim de auxiliá-los a lidar com possíveis dificuldades, problemas ou dúvidas envolvendo os adolescentes. “Os supervisores, que são servidores das instituições voluntárias, representam importantes modelos de identificação para os jovens, por isso atuam também como educadores nesse processo”, destaca.

De acordo com a supervisora da Rede Solidária Anjos do Amanhã, Lúcia Passarinho, o programa de estágio e inserção no mercado de trabalho é um dos focos de atuação da Rede. Nesse sentido, a Vara da Infância e da Juventude se preocupa em buscar parcerias voluntárias que ofereçam aos adolescentes jurisdicionados oportunidades de estágio, cursos e treinamentos para o desenvolvimento de habilidades que facilitem a conquista de um emprego no futuro, visando se tornarem autossustentáveis.