Música une artista consagrado e adolescente que vive em entidade de acolhimento do DF
Um instrumento de cordas – o violino – foi o elo que uniu na tarde desta quinta-feira, 23/4, dois apreciadores de música clássica. De um lado, uma adolescente de 14 anos que há oito meses mora em uma unidade de acolhimento do DF e recentemente descobriu a música, e do outro lado, um cantor e compositor conhecido em Brasília, o artista Eduardo Rangel. O encontro aconteceu na entidade onde vive a garota, na Asa Norte. O artista foi até lá formalizar a doação de um violino para a adolescente e, é claro, falar de música. Todo o processo foi intermediado pela Rede Solidária Anjos do Amanhã, projeto social da Vara da Infância e da Juventude do DF – VIJ/DF. O encontro foi acompanhado pela violinista Liliana Gayoso, pelo seu marido, o também músico e violonista Jaime Ernest Dias, pela equipe da Rede Solidária e pela coordenação da entidade.
Há dois meses estudando violino no Clube do Choro, a garota precisava do instrumento de cordas para aprimorar os estudos, e o músico, ao saber da necessidade por meio de servidora da Rede Solidária, resolveu fazer a doação. “Se você pode doar alguma coisa que vai ser importante para alguém, como um instrumento musical, por que não fazê-lo? A partir desse incentivo, a pessoa pode se profissionalizar e ter uma profissão. É uma oportunidade de ela ser independente. Melhor do que dar mesada é dar oportunidades. Todos poderiam pensar nisso”, declarou.
O músico diz que se sente realizado quando exercita a solidariedade. Ele, que também toca piano e violão, participou de outras ações sociais. Cantou para pacientes da Rede Sarah, para alunos de escolas públicas no Paranoá e para idosos em casas de repouso. “Gosto de tocar para essas pessoas porque estão mais abertas para receber e entender o meu trabalho”, diz.
E se depender da violinista que acompanhou a visita, Liliana Gayoso, professora da Escola de Música de Brasília há 24 anos e membro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro há 30, a adolescente vai longe. Segundo ela, a jovem já segura o instrumento com bastante desenvoltura. “Iniciantes demoram meses para conseguir isso. Ela tem talento. Com muito estudo e dedicação, vai se tornar uma grande violinista”, diz a mestre, que auxiliou Rangel na escolha e na compra do violino novo.
E entre uma palhinha de Jesus Alegria dos Homens, de Sebastian Bach, e Brilha, brilha estrelinha, de Mozart, a jovem foi narrando como descobriu a música clássica. O interesse pelo violino, segundo ela, veio a partir de um programa de TV que assistiu quando ainda morava com a mãe. “Assistindo a um programa no SBT, da apresentadora Rafaela, vi um homem tocando violino e me encantei. Passei a assistir todo final de semana na esperança de ver novamente algo parecido”, sustentou.
Ao chegar na entidade de acolhimento, narrou para a direção o seu interesse em aprender o instrumento e foi matriculada no Clube do Choro. “Faço aulas às segundas e quintas-feiras, por uma hora”, diz a jovem que estuda com dez outros alunos.
E se os planos de se tornar uma violinista profissional não prosperarem, a adolescente quer ser jogadora de futebol. Para isso, vem jogando futebol feminino uma vez por semana, em Taguatinga. “O futebol é minha outra paixão. Se a música não der certo, vou jogar futebol. Confesso que sou mais talentosa para a música e gostaria muito de conseguir ser uma violinista profissional”, conclui.
Sobre o artista
Eduardo Rangel iniciou a carreira aos 16 anos e lançou o seu primeiro disco, Pirata de Mim, em 1998. A música Copacabana Blues lhe rendeu a indicação de melhor compositor brasileiro, pelo VII Prêmio Sharp de Música. Nos anos 90, recebeu o I Prêmio Renato Russo, da Fundação Cultural do DF, e foi finalista do festival da Rede Globo Centro-Oeste Canta Cerrado.
Em 2005, fez temporada em Paris, com participação no concerto de Márcio Faraco no Théâtre L'Européen, e show ao vivo para o programa Décalage Horaire, da Radio Paris Plurielle.
Em 2006, lançou o segundo CD ao vivo, Eduardo Rangel & Orquestra Filarmônica de Brasília.Em 2012, apresentou sua releitura para a obra de Chico Buarque para o público carioca e candango.
Em 2013, lançou o videoclipe “3416 dC” e, atualmente, divulga o trabalho “Eduardo Rangel – Estúdio”.