VIJ-DF apoia lançamento do projeto “Por uma Infância sem Medo”
A Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal – VIJ-DF sediou na tarde desta segunda-feira, 19/6, o lançamento do projeto “Por uma Infância sem Medo”, idealizado pelos institutos Vida Positiva e Chamaeleon. O evento foi aberto com uma breve apresentação teatral de crianças e jovens do Instituto Vida Positiva sobre bullying, preconceito e medo na infância. Em seguida, o juiz titular da VIJ-DF, Renato Rodovalho Scussel, pronunciou-se falando da relevância da temática do projeto.
“A Vara da Infância se sente muito honrada em abraçar o lançamento deste projeto. Que possamos colocar essa matéria em pauta, em discussão, para traçarmos ações e diretrizes, a fim de atingirmos resultados mais objetivos, tratando o assunto de forma mais adequada”, disse Scussel, que avaliou como feliz a parceria dos institutos idealizadores do projeto. “Que possamos nos mobilizar, realmente nos imbuir desse objetivo e sair daqui com metas e estratégias adequadas à criação de mecanismos de combate ao medo na infância”, completou.
Também compondo a mesa de abertura do evento, o subsecretário de Educação Básica do Distrito Federal, Daniel Crepaldi, afirmou que a Secretaria de Educação está de portas abertas para levar às regionais de ensino as capacitações que o projeto “Por uma Infância sem Medo” pretende realizar. Segundo o subsecretário, é possível levar as discussões para o dia a dia das escolas e fazer com que os conflitos no âmbito escolar sejam solucionados de forma mais pontual e rápida e, assim, os alunos não sofram agressões e preconceitos. “Precisamos contar com a ajuda da sociedade civil. Não adianta esperar que só o Estado resolva esses problemas”, ponderou.
O secretário adjunto de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude bem como presidente do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do DF – CDCA, Antônio Carlos Carvalho, colocou o CDCA à disposição para o desenvolvimento de estratégias de disseminação do projeto “Por uma Infância sem Medo” em parceria com outras instituições envolvidas. Carvalho também ressaltou a importância dos temas ligados à infância e juventude e da divulgação de informações a respeito dos direitos da criança e do adolescente.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal – Sinepe, Álvaro Moreira Domingues Júnior, as leis no Brasil são muito boas, porém falta disposição para cumpri-las. “Não adianta estar escrito na lei se não houver homens e mulheres de boa vontade para concretizar. Devemos perseguir a virtude da coragem, principalmente a de efetivar as políticas públicas. Coragem de promover o crescimento humano dessas pessoas que representam o futuro do nosso país”, afirmou.
Compuseram ainda a mesa de abertura a presidente local da Business and Professional Women – BPW, Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, Cristina Melo, e a presidente do Instituto Chamaeleon, Beatriz Schwab. “A educação é a base de tudo”, disse Cristina. “É preciso estar atento aos filhos”, alertou Beatriz. A BPW tem como missão promover o empoderamento feminino através do conhecimento. E o Instituto Chamaeleon atende crianças vítimas de violência sexual e maus-tratos. Beatriz Schwab também falou da gratidão pela parceria com a Rede Solidária Anjos do Amanhã, programa de voluntariado da VIJ-DF, e com o Instituto Vida Positiva. “Queremos que as crianças tenham uma infância feliz, sem medo”, concluiu Beatriz.
Palestras
Após as falas dos componentes da mesa de abertura, a plateia pôde ouvir as palestras proferidas por Vicky Tavares, presidente do Instituto Vida Positiva; Augusto Pedra, coordenador nacional do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar – Cemeobes; Thirza Reis, coach e idealizadora do programa Vem SER Mulher; Valéria Martirena, delegada da Polícia Civil do DF e especialista no tema violência sexual; e Homero Reis, especialista em coaching.
A fala de Vicky Tavares foi a respeito de preconceito. “Temos o dever de respeitar o outro. O preconceito machuca, magoa”, disse. Para Vicky, a nossa sociedade está doente por falta de amor, que, segundo ela, é dom supremo. A presidente do Instituto Vida Positiva classifica o preconceito como uma “doença da alma” e diz ser necessário falar sobre o assunto com todos e em todos os lugares. “Se você não faz parte da solução, você faz parte do problema”, destacou. Vicky falou ainda da convivência em paz: “É hora de ajustarmos nossa percepção da vida para vivermos em paz com os outros”. E afirmou ser preciso fortalecer as crianças contra os medos e os preconceitos.
Para Augusto Pedra, a ignorância é a mãe do preconceito. Ao falar de bullying, o coordenador do Cemeobes disse que o tema tem sido banalizado e que é preciso ter coragem para prevenir e também para denunciar os casos. Para ele, é importante o acolhimento e a valorização da criança com amor, mas também com regras e limites. Augusto Pedra falou das conquistas no trabalho de prevenção e combate ao bullying, inclusive com a aprovação das Leis 13.185/2015 e 13.277/2016.
Thirza Reis afirmou que o medo é um sentimento primitivo que traz a sensação de desamparo e é causador de ansiedade e de vergonha. Segundo a coach, a dor e a angústia podem levar ao isolamento. “São feridas invisíveis e o antídoto é a ternura”, afirmou. Para Thirza, é necessário oportunizar que as pessoas sejam o que são, que haja o acolhimento das diferenças. Quanto às crianças, ressaltou ser preciso dar voz a elas e acolhê-las para que não sejam vítimas dos medos.
A delegada Valéria Martirena destacou a importância da articulação da rede de atendimento à criança e ao adolescente nos casos de violência sexual. Conforme a delegada, o trabalho em rede no Distrito Federal tem tido resultados positivos e conquistado a credibilidade da população. Ela falou ainda do aumento no número de registros de abuso sexual infantojuvenil e ressaltou ser importante dar credibilidade à palavra da vítima: “Dar voz à vítima auxilia no seu processo de recuperação”. Segundo Martirena, é importante também buscar a responsabilização do agressor e investir na restauração da família da vítima.
Em seguida, foi realizada uma breve mesa-redonda entre os palestrantes, mediada por Karmita Bezerra, do grupo Getap UnB – Estudos Transdisciplinares, com abertura para perguntas do público. O evento foi encerrado com a palestra motivacional do especialista em coaching Homero Reis. “Se você quer saber o futuro de um país, olhe para as crianças”, iniciou. O palestrante disse que as pessoas devem ter coragem para realizar as rupturas necessárias a partir da sua própria realidade, da sua própria casa, para começar a ser agente de mudanças. Nesse sentido, citou Mahatma Gandhi: “Seja a transformação que você quer ver no mundo”.
Homero Reis também falou de educação e da escola atual. Na sua avaliação, as escolas hoje se preocupam mais em preparar as pessoas para o mercado de trabalho e não para a vida. Ele criticou o que chama de “monetarização da vida”, visão segundo a qual tudo gira em torno do dinheiro. “Muitas pessoas fazem o que não gostam para ganhar dinheiro”, afirmou. Em sua fala, abordou ainda questões relativas ao respeito e à convivência com as diferenças. “Que na taça do respeito possa ser vertido o líquido sagrado do amor”, disse. Para Reis, com o respeito se constrói a possibilidade do amor.
Capacitação
Ao longo de um ano, o projeto “Por uma Infância sem Medo” realizará oficinas gratuitas sobre medo na infância em 14 áreas geográficas do Distrito Federal. O projeto é direcionado a pais, cuidadores, educadores, profissionais das áreas de educação e saúde, servidores públicos e pessoas interessadas no tema. Os profissionais envolvidos no planejamento e execução das oficinas (assistente social, coach e psicólogo) receberão atestados de capacidade técnica e o selo “Amigo da Criança”.