Turma do curso Perdão e Reconciliação celebra encerramento

Curso promovido pela Rede Solidária Anjos do Amanhã em parceria com instituto finaliza com bons resultados
por Liliana Faraco — publicado 2019-12-03T18:57:00-03:00
"Quando odiamos uma pessoa, odiamos nela algo que está dentro de nós. O que não faz parte de nós não nos perturba.”  Hermann Hesse

Formatura

Nesta terça-feira (3/12), foi finalizado o curso “Perdão e Reconciliação”, promovido pela Escola de Perdão e Reconciliação (ESPERE), em parceria com a Rede Solidária Anjos do Amanhã, programa social da Vara da Infância e da Juventude (VIJ-DF), com celebração e rituais de gratidão, aprendizado, empatia e compromissos. A capacitação foi destinada às equipes técnicas, cuidadores e dirigentes das instituições de acolhimento, equipes das unidades de medidas socioeducativas, voluntários da Rede Solidária e servidores da VIJ/DF.

 Iniciado em 10/9, o curso foi ministrado em doze encontros pela assistente social e coordenadora regional da ESPERE, Maria Acirene Almeida Braga, e pela psicóloga Leda Breitenbach Barreiro, contemplando dez módulos divididos em duas temáticas: Perdão e Reconciliação. A metodologia aplicada pela ESPERE possibilita recompor o equilíbrio perdido por meio de três ferramentas: ambiente seguro, liberação para poder reinterpretar vínculos verdadeiros que incentivem a confiança e a cooperação, o que permite aos envolvidos assumir a decisão de vivenciar um processo de cura das feridas. E, com isso, as pessoas podem ser multiplicadoras da paz onde convivem e trabalham.

O formato do curso é vivencial, provido de dinâmicas, vídeos, músicas, rituais, além de análise crítica de filmes e questionamentos reflexivos como deveres de casa. Todo esse conteúdo serviu para representar cada passo do processo de perdão e de reconciliação: procurar novos caminhos, sair da escuridão em direção à luz, decidir perdoar, compreender o ofensor e compartilhar a dor da ofensa, estabelecer pontes, construir a verdade, promover a justiça, estabelecer pactos e celebrar a reconciliação.

Carcereiro de si mesmo

Durante o curso, Maria Acirene ensinou que o processo de perdoar perpassa pelo autoconhecimento e por um olhar diferente dirigido ao ofensor e às suas necessidades. O perdão, segundo a professora, favorece especialmente àquele que perdoa: “Quem não perdoa é carcereiro de si mesmo e o corpo não suporta isso”. Ela ensinou que o objetivo do perdão é “lançar luz sobre os enganos e o maior desafio está em nos autoconhecer e nos aceitar com nossas necessidades”, pontuou.

Ao finalizar o curso, Maria Acirene relembrou que fazemos pactos o tempo todo com as pessoas e as instituições. Ao tratar da reconciliação, ela afirma ser um trabalho de fazer a memória para exorcizar o passado: “Antes dominavam os sentimentos negativos e doloridos. Agora, você precisa buscar outra forma de olhar seu passado. Insista e tenha cuidado ao restaurar o que foi quebrado em você e estabeleça um pacto, aceitando a fragilidade das relações”, aconselhou.

No encerramento do curso, foi aprendido o conceito de "celebração", como expressão da espiritualidade e a forma de recuperar a ordem e a consistência da vida, diante do caos causado pela ofensa. Os alunos prepararam aulas antes o momento que coroou o fechamento da capacitação. Houve depoimentos, emoções, abraços, dança, poesia, lanche, lembranças e entrega de flores às professoras Maria Acirene, Leda e a outros representantes da ESPERE, que participaram do momento.

Depoimentos

O supervisor da Rede Solidária Anjos do Amanhã, Gelson Leite, participou ativamente do curso além de auxiliar na organização. Ele disse que, apesar de ser uma formação de média duração, o número de adesões e de participantes foi surpreendentemente alto até o final, demonstrando o interesse das pessoas pelo tema. “Mais do que isso: é uma questão de necessidade. Não temos dúvida de que o curso tem sua relevância para o desenvolvimento integral de quem o escolheu fazer. Quem não tem questões relacionadas ao perdão dentro de si, nem que seja o perdão a si mesmo? Ou quem não conhece alguém que poderia ser beneficiado com as ferramentas e conhecimentos nessa área?”.

Gelson ressalta a importância do autoconhecimento para o sucesso profissional. “Se as demandas internas dos operadores sociais não forem consideradas, a qualidade profissional é atravessada pelos problemas que cada um carrega. O profissional em sofrimento também somatiza isso no seu ambiente de trabalho. Exigir capacitação profissional estrita, sem olhar para a dimensão interna do sujeito, é como jogar pá de cal na dor dele. Passar por cima disso não funciona", pondera.

Sobre os benefícios dos cursos e as iniciativas da Rede Solidária para o público parceiro da VIJ-DF, ele avalia: “temos recebido retorno positivo do quanto  é importante cuidar de quem cuida.  É uma forma indireta de qualificar a prestação do serviço em prol do nosso público-alvo prioritário: crianças e adolescentes em situação de violação de direitos”.

A professora Leda se disse maravilhada com a caminhada de cada um: “Eu estava pensando nos frutos que vocês darão no trabalho com as crianças e os adolescentes. Gostaria de cumprimentá-los por isso. Eu sou grata pelo privilégio de compartilhar esses momentos do curso com vocês”, declarou despedindo-se da turma.

Uma das participantes, a servidora Marilene Conceição Silva, lotada na 2ª Vara Criminal de Brasília, fala da sua experiência: “Quando comecei o curso, a minha intenção era o aprendizado sobre como perdoar o outro. Mas na verdade passei a entender que eu quem estava sendo tratada. Eu fui ouvida com atenção e, a partir dos ensinamentos das professoras e das dinâmicas, estou mais consciente do que fazer, falar e agir em prol do meu próximo. A nível profissional, aprendi sobre o equilíbrio emocional sobre os meus sentimentos e os dos meus colegas e que cada pessoa tem um momento diferente. Estou muito feliz com esse curso.”

 A advogada Rhuana César agradeceu pelo resultado do curso. “Aprendi muito com os depoimentos e reflexões, que certamente engrandeceram a mim e a vocês. Esse curso foi muito importante para o processo de busca de autoconhecimento e de conexão com o outro, do perdão em relação ao outro e a mim também, pois depositamos muitas cobranças em cima de nós mesmos. Eu me comprometo a levar esse conhecimento a pessoas próximas e a estabelecer uma convivência mais harmônica, buscando mediar os conflitos e intermediar o que estiver ao meu alcance, a fim de propagar a paz em relação a mim e ao meu próximo”, declarou.