Adoção tardia de irmãos revela muito amor em família

por Daphne Arvellos - SECOM/VIJ-DF — publicado 2019-07-25T14:34:04-03:00

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“Eu agradeço muito a Deus porque eu rezava muito para que vocês chegassem na minha vida.” Essa frase é do Léo, hoje Leonardo Ramalho Peixoto (10 anos), adotado junto com a irmã Maria Clara (13) por Erivaldo e João em 2017. Nas palavras da representante feminina da casa, Clarinha, sua família é amor, perceptível no carinho que permeia os quatro, nos relatos não só dos meninos, mas dos pais apaixonados pelos filhos que chegaram por meio da adoção tardia para completar a casa. “Adoção pra mim é ter uma família nova, é ter uma vida melhor, é ter mais amor”, completa Léo.  

EBL_família1Juntos há 18 anos, João e Erivaldo sabiam que os dois já eram uma família, mas faltava alguma coisa. Começaram então a amadurecer a ideia de filhos. João conta que, desde mais cedo, tinha o sonho de ser pai: “A gente queria tomar a decisão, conversamos e ponderamos muito. A vontade dos dois de ter uma família constituída era muito grande”. Ao ver um casal de amigos ter seu filho por meio da adoção, perceberam que essa era uma realidade possível. Em janeiro de 2015, deram entrada no processo de habilitação para adoção. “Para um casal homoafetivo, é uma grande possibilidade de constituir sua família: foi a possibilidade de realizar nossos sonhos. E a paternidade já era mais que um sonho”, adiciona Erivaldo.

Saindo do perfil

Como a maioria dos candidatos à adoção, a princípio, os dois optaram pela faixa etária de crianças mais novas, com possibilidade de irmãos. Dados de julho do cadastro de adoção do DF mostram que, das 547 famílias habilitadas, apenas 27 aceitam crianças entre 9 e 11 anos. Quando se trata da adoção de adolescentes, o número de famílias interessadas é ainda menor: somente sete. Sabendo dessa realidade, a adoção de irmãos e a de crianças mais velhas são frentes de trabalho do projeto “Em Busca de um Lar”, lançado pela Vara da Infância e da Juventude do DF (VIJ-DF), em maio deste ano, para aumentar as chances de adoção daqueles que são preteridos por questão de idade, por fazerem parte de grupo de irmãos ou por terem alguma deficiência ou problema de saúde. Saiba mais aqui.

EBL_família2“Nesse tempo, líamos bastante, víamos programas com histórias de adoção e conhecemos perfis diferentes de famílias. Aí pensamos: pode haver novas possibilidades”, conta Erivaldo. Acompanhar o dia a dia dos amigos que obtiveram a adoção de um bebê também contribuiu para repensar a escolha. “A gente tem essa ideia de que bebê ‘é mais fácil’. Mas a gente começou a perceber que não era tão verdade, são crianças como qualquer outra”, diz.

Na busca por mais informações, tomaram conhecimento dos grupos de busca ativa, como o “Em Busca de um Lar”, que, à época, já existiam em outros estados do país. Nesses espaços, tiveram contato com a história e a possibilidade real de adoção de um grupo de três irmãos em São Paulo. “Com esses relatos e o que havíamos estudado, começamos a conversar sobre aumentar a idade e as possibilidades”, conta João. Com isso, precisaram alterar o perfil já previsto por eles na VIJ-DF, mas, com a alteração, veio o pedido da própria equipe da Vara: “Antes de tentar adoção lá, esperem um pouco; com esse perfil, seus filhos estão aqui”. Dois dias depois foram convidados para conhecer a história dos irmãos que se tornariam seus filhos.

Conhecer para decidir

“Pesquisar, ler a respeito foi muito importante e necessário pra gente ter tomado essa decisão pela adoção tardia”, conta Erivaldo. “Pensei que, se tivéssemos feito isso antes, desde o início, já teríamos feito a opção. Às vezes é até uma preocupação inconsciente que temos, por escutar alguma coisa. Mas criança é criança”, completa João. 

Erivaldo acredita que a adoção tardia gera resistência não apenas pela idade em sim: “A adoção de bebezinho tem muito a ver com a carga emocional que as crianças trazem. Ora, mas se a gente é adulto, que medo a gente tem de enfrentar essa história, essa página preenchida?”. Ele fala que os quatro conversam sobre o tema. “Às vezes a Clarinha fala ‘minha mãe’. A gente diz: é sua mãe sim, sua genitora, vai ser sempre sua mãe”, conta o pai Erivaldo. Quanto ao outro medo que pode ser associado a adotar crianças mais velhas, relativo a questões típicas da adolescência, João afirma que também não foi um problema: “A gente saber lidar com isso. Adolescentes todos vão ser. A gente está preparando eles pra serem adolescentes tranquilos”.

Vínculos se constroem, mudanças também

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A família se conheceu no dia 12 de junho de 2017. “No primeiro dia, foi meio constrangedor, tem aquela questão de primeiro encontro”, conta João. “No segundo dia, eles já estavam mais ansiosos até que nós”, relata o pai. Os filhos foram morar em casa no dia 31 de agosto do mesmo ano. A criação da afetividade foi algo natural. “Chegou um tempo em que começava a doer; as despedidas eram muito dolorosas. A gente sentia que estava chegando a hora, que nossos filhos realmente estavam chegando”, narra Erivaldo. 

Apesar do vínculo desde o princípio, os pais contam que o início foi desafiante, com ajustes que a chegada de filhos trazem a qualquer família. “Passamos por muitas mudanças com a chegada dos dois. Foi um semestre bastante estressante, com término de obras em casa, levá-los para a escola que eles já frequentavam para terminarem o semestre. Mas depois tudo começou a se encaixar”, relata Erivaldo. Eles contam que vieram decisões típicas de pais, como as sobre a educação, superadas com um princípio comum a eles: “Queremos que sejam felizes”.

Sentindo-se em casa, os pais contam que Léo e Clara hoje expressam suas personalidades e gostos com liberdade. “A gente tem esse vínculo muito forte. Fica um vazio absurdo quando eles não estão aqui pertinho, mesmo quando estão na casa do vizinho”, conta Erivaldo. O mesmo é sentido pela família de João e Erivaldo e pelos amigos, que são a extensão dos laços sanguíneos para eles. “A adaptação deles e de todos foi um processo muito tranquilo. A gente contaria com essa ajuda se tivéssemos adotado um bebezinho, a idade não fez diferença”. Bem confortável na nova casa, Léo resume o sentimento da adoção: “Ter uma família é muito importante para a vida porque ela faz você mais feliz. E não é bom ficar sozinho. Eu amo essas pessoas, a minha família, e principalmente a parte que eles me dão muito amor e carinho”.

Clique na imagem para assistir vídeo com a família.

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