Família relata experiência com a adoção de criança com deficiência

por João Aurelio de Abreu — publicado 2019-07-08T14:45:00-03:00

José Matheus no colo da mãe.jpgRoseane Badu Araújo Filho e Vilson João Araújo Filho, depois de 25 anos casados, resolveram ter dois filhos: um biológico e um adotado. Assim que tomaram essa decisão, se apresentaram como interessados em adotar na Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (VIJ-DF). Para eles, não havia nenhuma importância quem viria primeiro, e nem o perfil do adotado. “Nós decidimos amar, e não escolhemos como ou a quem amar. Só queríamos ser chamados de pai e mãe”, disse Roseane. E, assim, o casal foi apresentado ao bebê Matheus, então com 8 meses de idade, que tem esquizencefalia de lábios abertos, mas isso não fez o casal pensar duas vezes. Ele era o seu primeiro filho.

A mãe adotiva explica que Matheus era considerado surdo, porque não falava. Mas, depois de alguns exames, constatou-se que ele não falava por uma deficiência motora causada por uma paralisia cerebral e pela ausência total do hemisfério cerebral direito. A adoção para o casal foi algo natural. “Não há diferença entre uma criança com deficiência e uma criança normal”, afirma Roseane.

Matheus foi submetido a uma cirurgia e a sessões de fisioterapia. Ao completar um ano e um mês, um exame constatou que o “pequenino” tem um desenvolvimento cognitivo idêntico ao de uma criança da sua idade e, o melhor, está falando tudo. Quando chegou na sua nova casa, Matheus apenas sustentava o pescoço. Para Roseane e Vilson, o rápido desenvolvimento não surpreendeu porque, nas palavras da mãe orgulhosa de seu filho, “o amor cura”.

Eles querem ainda providenciar um irmão biológico para Matheus, que em breve terá seu nome alterado para José Matheus. “Já demos entrada na papelada para mudar o nome dele. Vamos manter o Matheus, para respeitar a história que ele carrega, e acrescentar o José para marcar o início de sua nova história”, explicam.

Roseane conta que, antes de conhecerem a criança, a equipe técnica da VIJ-DF apresentou as características e as condições de Matheus. Só depois que deram a certeza do interesse na adoção, eles tiveram acesso à criança.

A psicóloga Maíra Cristina Coelho de Lima, da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara (SEFAM/VIJ-DF), explica que a equipe técnica avalia com bastante cuidado o histórico de saúde das crianças com deficiência e o grau de incerteza dos prognósticos. “Pois seremos os primeiros a desenhar ou descrever o filho que chega”, diz. Da mesma forma, a equipe da SEFAM ajuda as famílias a avaliarem se estão preparadas para lidar com as demandas específicas de uma criança com deficiência. “O grau de complexidade dessas intervenções é proporcional à satisfação de ver criança e requerentes formando uma família”, comenta Maíra.

Há uma dificuldade muito grande para encontrar famílias com interesse em adoção de crianças e adolescentes com deficiência, mas há casos bem-sucedidos. Maíra exemplificou a situação de um menino de quatro meses cadastrado para adoção em janeiro deste ano, com a deficiência de não ter o fêmur de uma das pernas, além de apresentar duas hérnias e a suspeita de quadro de síndrome genética. As famílias cadastradas para adoção consultadas pela equipe não desejavam o perfil compatível com a criança.

No entanto, em abril, uma família se mostrou interessada na adoção. Mas, quando conheceu com detalhes as deficiências do adotando, ficou em dúvida. Coincidiu ser uma época de férias. O casal viajou, encontrou outros familiares, conversou com outros membros da família sobre o assunto. E o casal recebeu de seus familiares a seguinte resposta: “Se fosse seu filho natural, seria acolhido com o mesmo carinho, então, qual é a dúvida?”. O menino foi adotado.

Atualmente, no Distrito Federal, existem 26 crianças com deficiência esperando por adoção. Em 2017, 7 foram adotadas, e, em 2018, foram 8. Até o mês de maio de 2019, 4 foram adotadas.

Ciente dessa dificuldade, a VIJ-DF lançou o projeto Em Busca de um Lar, exatamente com o propósito de encontrar famílias para crianças e adolescentes à espera de adoção, mas que não fazem parte do perfil preferido pelos interessados em adotar.

Atualmente há uma criança e cinco adolescentes que integram o projeto Em Busca de um Lar. Um deles é Mateus, 14 anos, que está à espera de um lar.