Adoções na pandemia ressignificam Natal de famílias do DF

por Daphne Arvellos — publicado 2020-12-16T18:35:00-03:00

Vivian1.jpegVivian Isabelle tinha 12 anos quando ganhou uma nova família em 2020. Mesmo em meio ao cenário de incertezas imposto pela pandemia de Covid-19, Tatiana Vieira e Fábio Marques tiveram certeza quanto à decisão de adotá-la. Desde a chegada da menina à casa, em novembro deste ano, tudo está diferente. Mudanças também no lar de Juscelino Monteiro e Dennys Vasconcelos. O casal recebeu em casa a pequena Laura, de 1 ano e 2 meses, em junho.

“Tudo mudou por aqui: decoração da casa, compras de mercado, horários de acordar e dormir e principalmente os nossos sentimentos internos”, divide Tatiana. Com a proximidade das festas de final de ano, expectativa também com relação às primeiras festividades juntos. “Será um Natal de amor, de felicidade, de paz. O ano de 2020 trouxe a Vivian pra gente”, conta Fábio. “O Natal será contagiado de esperanças para a nova vida que nos espera”, compartilha Juscelino.

Nunca é tarde para a adoção tardia

Pais do Miguel, de 13 anos, Tatiana e Fábio contam que a adoção era há tempo um sonho do filho. “Ele queria muito uma irmã e sempre falou em adoção. A gente não entendia muito bem isso”, explica Tatiana. Os pais resistiram inicialmente ao pedido do filho, mas Miguel insistia na irmã. “Foram três anos com o desejo guardado até que enxergamos a realidade por um outro ângulo. Conversamos e decidimos que iríamos partilhar desse desejo”, divide o pai.

Vivian2.jpegPor conta das restrições impostas pela pandemia, o processo de adoção da Vivian foi diferente. Rotinas marcadas pela presença ganharam feições digitais e reforço nos protocolos de segurança. Quando uma criança ou um adolescente encontra uma família apta a adotá-lo, inicia-se a aproximação através do estágio de convivência. Em condições normais, a primeira fase aconteceria na instituição de acolhimento e em passeios e visitas à casa dos futuros pais. Por conta da pandemia, o estágio foi adaptado. “Ficamos nos reunindo virtualmente com ela por muitos meses. Os vínculos foram sendo criados por ligações, chamadas de vídeos, cartas e mensagens. Foi uma aproximação a distância”, explica Tatiana.

Com todos os cuidados devidos, seguiram-se visitas da família à instituição de acolhimento em que Vivian estava acolhida e dela à casa da família, até a chegada definitiva ao novo lar. “Por ela ser uma pré-adolescente, a adaptação não foi tão simples. Sempre entendemos isso. É uma caminhada que abraçamos e na qual estamos juntos, de que não abrimos mão de acontecer”, relata Tatiana. Resultados positivos já são vistos desde a chegada à casa em novembro. “É sempre muito diálogo, paciência e respeito”, completa o pai.

E quanto ao irmão que ensejou o pedido de adoção? A mãe afirma que os dois se dão muito bem. “Eles cumprem muito bem o papel de irmãos”, conta a mãe. A família não tem dúvidas de que Vivian veio somar. “Estamos muito felizes, somos muito gratos. Nossa família está completa. Se estou arrependida? Sim, de não ter escutado o Miguel lá atrás. De não ter adotado antes. Mas agora entendemos que tudo tem seu tempo e o nosso chegou”, finaliza Tatiana.

Paternidade testada

Laura1.jpeg“Nós dois sempre tivemos o sonho de ser pais”, conta Juscelino. Nos planos do casal, no entanto, o filho seria um menino e, de preferência, recém-nascido. Nove meses depois da habilitação para adoção, veio ao casal a apresentação da Laura, de 1 ano e 2 meses, e com sugestão de microcefalia leve e retardo global. “Com a Laura, os planos se reinventaram. Ela veio para desconstruir nossas imagens, nossos referenciais, para tirar certezas”, afirma Juscelino.

Como toda adoção, seguiram-se os desafios à adaptação. “Nos três primeiros dias, ela chorava dia e noite. Chegamos à exaustão emocional. Mas logo ela entendeu que já tinha um novo lar, e que seríamos uma família”, relata o pai. Para Dennys e Juscelino, os custos foram rapidamente recompensados: “Todo o trabalho e ajustes são compensados quando ela chega de mansinho e nos beija, nos abraça, nos olha ‘daquele jeito’, sem nenhuma pretensão que não seja a de dizer ‘muito obrigado por vocês terem me escolhido’”.

Laura2.jpegDesde o início, a menina os surpreendeu. “Passaram um diagnóstico ainda não fechado da Laura que me deixou preocupado. Imaginava uma criança bem debilitada”, conta Juscelino. Enfermeiro, ele relata que começou a questionar o diagnóstico inicial a partir das capacidades que a filha demonstrava desde o primeiro encontro. “Quando ela veio pra casa, a avaliação passou a ser cada vez mais favorável. Ela andou muito rápido, com três meses aqui. Hoje ela não anda, corre”, relata. Os pais contam que ela interage muito bem com eles e os dois moradores precedentes da casa: os cachorros do casal, Ayla e Bethoveen. Além de "papai", que aprendeu a falar ainda na instituição de acolhimento, e o próprio nome, Laura acrescenta cada vez mais palavras ao seu vocabulário. 

Na última visita à médica que acompanha Laura na Rede Sarah Kubitschek, as percepções do pai foram confirmadas. Apesar da microcefalia diagnosticada em exames, a profissional disse que não acredita em sequelas ou no comprometimento neurológico e motor da menina, o que resultou em sua alta médica. "Que isso sirva de exemplo para que a gente não se deixe prender por diagnóstico, a não tratar a imagem, tratar as pessoas", completa Juscelino.  

Apesar de ter sido alterado, Juscelino acha que o diagnóstico inicial não foi por acaso: “Penso eu que ela tinha que vir dessa forma para nos testar, ver se iríamos negá-la como já haviam feito”. O aceite da bebê fora dos padrões desejados pela maioria dos pretendentes à adoção diminuiu o tempo de espera na fila. “Recebemos nossa filha em nove meses, o que também é muito bonito, pois equivale ao tempo de uma gestação”, finaliza o novo pai.

Adaptação após adoção

No novo episódio do podcast Prioridade Absoluta, a psicóloga Rebeca de Paula, da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara da Infância e da Juventude do DF, fala sobre a adaptação familiar depois da adoção.  Você pode ouvi-lo no canal TJDFT Podcast, nos principais gerenciadores de áudio. Clique aqui para acessar o episódio.