Pandemia pode aumentar a exposição de crianças à violência

por Daphne Arvellos Dias - ACS — publicado 2021-05-11T01:00:00-03:00

Post1_Matéria3.JPGA Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (VIJ-DF) alerta para o aumento do risco da exposição de crianças e adolescentes a situações de violência ou negligência durante a pandemia. O prolongamento das medidas de contenção da Covid-19 é acompanhado por fatores geradores de estresse e de ansiedade que repercutem na saúde mental dos adultos e podem ser repassados aos pequenos.

Em 2020, 95.252 denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes foram contabilizadas pelo canal Disque 100, da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Isso representa mais de 260 denúncias diárias de violações. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) indicam que, entre 2010 e 2020, pelo menos 103.149 crianças e adolescentes morreram em consequência de agressão no país. Apesar de os dados não serem diretamente associados à pandemia, expõem a situação de vulnerabilidade dos jovens, suscetibilidade que pode ser majorada no contexto presente.

Reginaldo Torres, supervisor do Centro de Referência para Proteção Integral da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Sexual da VIJ-DF (CEREVS), alerta que emergências de saúde pública em nível global trazem consigo novos desafios às famílias e instituições responsáveis pelo atendimento de crianças e adolescentes. “Estamos vivendo em um ambiente com maior rompimento de vínculos afetivos decorrente do distanciamento social. Existem ainda os efeitos econômicos e sociais, que geram em muitas famílias a insegurança”, completa o supervisor.

As mesmas medidas que ajudam a conter a crise sanitária mundial criam desafios na esfera doméstica. “O isolamento social contribui para diminuir a propagação do vírus. Mas, por outro lado, contribui também para o aumento da ansiedade e indiferenciação entre as esferas pessoais e de trabalho. O próprio medo de adoecer também deixa as pessoas mais vulneráveis”, analisa Niva Campos, supervisora da Seção de Atendimento à Situação de Risco da VIJ-DF (SEASIR).

Niva Campos lembra que as adaptações à pandemia trouxeram mudanças em rotinas já consolidadas e a intensificação de outras. Pais precisaram acumular a orientação e o acompanhamento das aulas remotas dos filhos; as pessoas passaram a vivenciar mais o processo de luto e o lado emocional com as perdas de familiares e entes queridos. “Pode se dizer que as pessoas estão ansiosas e sobrecarregadas, com poucas válvulas de escape. Assim as relações ficam mais vulneráveis a cobranças, ressentimentos, emoções diversas”, afirma a supervisora da SEASIR.

Post2_Matéria3.JPGFamílias, crianças e adolescentes mais isolados têm menos recursos para lidar com a frustração e a ansiedade. Apesar da maior sensibilidade, Niva Campos acredita que a criatividade pode ser a chave para respeitar as medidas de contenção da pandemia mantendo a saúde das relações em casa. “Penso que os pais devem respeitar o isolamento social, mas também buscar apoio na rede existente: família extensa, escola, igreja, associações comunitárias. Preservar seus ritos e celebrações de um modo diferente, virtual, mas caloroso”, pondera.

Nas próximas matérias desta série sobre maus-tratos infantojuvenis, falaremos sobre a importância do autocuidado materno e paterno como forma de prevenção a situações de risco e como agir em caso de suspeita de violência. Acompanhe! Conheça as diferentes dimensões dos maus-tratos a crianças e adolescentes e como reconhecer os sinais de violações nas matérias já publicadas neste especial.

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