CIJ-DF participa de encontro com 140 crianças e adolescentes acolhidos

por Liliana Faraco e Raqueline Feitosa / SECOM / 1ª VIJ-DF — publicado 2023-07-17T20:23:00-03:00

Cinco pessoas em torno de um banner do evento "Encontro de Acolhidos 2023". Da esquerda para a direita: promotora, juiz da infância e da juventude e dirigentes de instituições de acolhimento“Foi a primeira vez que vi acontecer uma festa assim, com tantas crianças e jovens. Foi excelente!”, relatou o adolescente de 15 anos da entidade Casa de Ismael, um dos 140 meninos e meninas das entidades de acolhimento do DF que se reuniram no Encontro de Acolhidos 2023, ocorrido no último sábado (15/7), na Universidade da Paz (UniPaz), que contou com a presença do juiz coordenador da Infância e da Juventude do DF (CIJ-DF), Evandro Neiva de Amorim, e de servidores do TJDFT.

Durante todo o dia, eles se reuniram para se conhecerem e compartilharem momentos de alegria, diversão e reflexão por meio do contato com a natureza. O tema central dessa segunda edição foi “As quatro estações do coração”, fazendo alusão às estações do ano como momentos e emoções diferentes na vida das pessoas. Participaram também 40 voluntários, técnicos, cuidadores, bem como representantes da Secretaria de Desenvolvimento Social do GDF, Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, Defensoria Pública do DF, do Ministério Público do DF e Territórios, entre outras entidades parceiras da rede de proteção infantojuvenil do Distrito Federal. O encontro foi promovido pela instituição Obras Sociais do Centro Espírita Irmão Áureo (OSCEIA-DF).

A gente não sabe do que uma semente é capaz só de olhar para ela, não imagina o tamanho da sua força

Uma menina abraçando a árvoreAs crianças e os adolescentes iniciaram a manhã com danças e ioga e, em seguida, foram conduzidos ao espaço da UniPaz próximo a uma cachoeira, onde, agrupados por “estações” de vivências com nomes de árvores do Cerrado, desfrutaram de um piquenique em meio à natureza. A ideia foi a de integrar os meninos, independente da idade e da instituição a qual pertencem e promover a troca de vivências entre eles, por meio da educação ambiental.

Em cada uma das nove equipes, os facilitadores conversaram sobre as intempéries das estações do ano e a superação das plantas do Cerrado para semear, florescer e dar frutos. A proposta foi traçar uma metáfora aos sentimentos frente às dificuldades da vida e à capacidade do ser humano de encontrar dentro de si a resiliência e a força para transformar a realidade que o cerca. Um espaço de fala foi aberto aos jovens, convidados à reflexão. Em cada estação, facilitadores mediaram dinâmicas divertidas para ilustrar a temática, com danças, brincadeiras e contação de histórias.

Juiz e grupo de pessoasO juiz Evandro Neiva de Amorim acompanhou de perto as equipes, conversou com os acolhidos e com os representantes das entidades de acolhimento. “O evento nesse lugar agradável, o contato com a natureza, a diversão, as brincadeiras são de certa forma a vida em comunidade, embora sejam jovens em condições específicas. Esse encontro estimula novas expectativas para os garotos e as garotas. O mais importante aqui é a troca de experiências entre eles”, declarou.

Na avaliação do magistrado, o momento também serviu para aproximar os atores da rede de proteção aos acolhidos: “Torna presente na vida deles algo que parece distante; propicia esse contato pessoal das crianças e dos adolescentes com o promotor, o defensor, o juiz de direito. Podemos, então, ouvir quais os seus anseios, as suas dificuldades, como podem desmitificar a imagem construída de ‘fiscalização contínua’ do juiz e do promotor”.

Depoimentos da rede de proteção

O entusiasmo e a expectativa eram também presentes para os organizadores, que desde março preparam a festividade. Joaquim Pedro Levino da Silva, coordenador da instituição Lar de Eurípedes, uma das unidades das OSCEIA-DF que acolhe crianças e adolescentes, já previa o sucesso do evento. “Para nós é uma experiência marcante e inédita, porque o primeiro encontro foi virtual devido à pandemia. Agora sendo presencial, esperamos fazer um grande evento. A UniPaz é um ambiente muito bonito para desenvolver todas as atividades em harmonia, tranquilidade e com muita festa”, comentou.

Um jovem de 17 anos do Lar de Eurípedes que auxiliava na organização falou sobre o que esperava do momento. “A intenção é aproximar os acolhidos. Estou muito animado para essa experiência, de conhecer novas pessoas”, externou.

Da esquerda para a direita três mulheres brancas: Promotora de Justiça vestindo blusa vermelha, no meio a defensora coordenadora do Núcleo da Infância trajando roupa bege e casaco preto e na ponta defensora trajando blusa verde

Representantes da Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude e da Defensoria Pública expuseram suas impressões sobre o encontro. A promotora de Justiça Rosana Viegas falou que se trata de "um marco na proteção integral, pois é um momento de união e de celebração, por meio do qual as crianças, os adolescentes e as instituições de acolhimento se reconhecem, se dão as mãos e se fortalecem”, avaliou. Rosana ressaltou que as vivências compartilhadas ajudam os jovens a crescerem e a aprenderem sobre a autonomia.

A defensora pública Camila Lucas Mendes, coordenadora do Núcleo de Assistência Jurídica da Infância e da Juventude da Defensoria Pública, comentou sobre o encontro: “Fico muito feliz de presenciar um evento tão organizado, de um cuidado com essas crianças! Há todo um trabalho processual da Defensoria, mas esse contato com crianças, adolescentes e entidades acolhedoras faz a diferença para além do processo”, declarou.

Para a defensora pública Ana Paula Catini, o encontro é uma pausa para a realidade por vezes dura e difícil dos acolhidos. “É uma oportunidade de confraternizar, de viver um momento de amor, de dar voz às crianças e aos adolescentes, que é o objetivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o de que os jovens deixem de ser objetos para serem sujeitos de direito".

O tão esperado banho de cachoeira

Meninos pintam camisetasPara fechar a manhã, a garotada se divertiu com as atrações do Circo Grock Internacional, que está em temporada na UniPaz. À tarde, meninas e meninos participaram de oficinas de pintura em camiseta, confecção de bijuterias, slackline, massagem, plantio de árvores nativas do Cerrado. O voluntário Bruno de Oliveira, da Casa do Caminho, que ajudou na oficina de slackline, comentou: “Gosto de ajudar com o que for preciso. Sempre procuro a entidade de acolhimento para oferecer alguma atividade para a garotada, meu lema é ser útil”.

Acolhidos da Casa de Ismael do Paranoá e da Asa Norte falaram sobre o evento. “O que achei mais legal foi a junção das várias casas. Possibilitou a comunicação com muitas pessoas que eu nem conhecia”, disse o rapaz de 16 anos. Já a menina de 14 anos revelou ter adorado as comidas e estar na companhia de todos.

Meninos brincam na cachoeiraPara arrematar o dia, o tão esperado banho de cachoeira. Era visível a alegria estampada nos rostos das crianças, que, eufóricas, pulavam na água com disposição. Nem mesmo a água fria as intimidou. A menina do Lar de São José achou “incrível a cachoeira. Estava só esperando por isso”, relatou ainda trêmula pelo frio.

Revigorados pelo banho de cachoeira, os acolhidos assistiram à apresentação de batalha de rimadores. Aos gritos e gargalhadas, a criançada repetia o lema das batalhas de rima: “se você ama essa cultura como eu amo essa cultura, grita hip hop”. Nesse clima de muita celebração, danças, risos e cantos, o evento foi se aproximando da despedida, que finalizou com palavras de agradecimentos dos colaboradores, cuidadores e de alguns jovens que se manifestaram.

O fechamento coube ao coordenador Joaquim Pedro, que projetou a importância de cumprimento integral do ECA e reafirmou a prioridade absoluta da infância e da adolescência frente a sociedade. No encerramento, meninos e meninas encenaram trechos do ECA e saborearam um delicioso lanche preparado na hora. O saldo do dia resultou em crianças e adolescentes felizes, acolhidos, revigorados e bem alimentados, como devem ser.

Fotos: MPDFT e Paulo Victor Lago