19 de maio - Dia de doação de leite humano “Aumentando a conscientização sobre a doação de leite humano”

A quantidade e a qualidade da nutrição recebida durante os primeiros meses após o nascimento são fundamentais. O leite materno, além de conter uma combinação perfeita de macro e micronutrientes, bem como elementos bioativos, fornece também células vivas e bactérias benéficas ao intestino infantil. As vantagens da amamentação para o crescimento e desenvolvimento infantil saudáveis são amplamente conhecidas, e nenhuma outra estratégia, isoladamente, tem tamanho potencial em reduzir as desigualdades em saúde e em prevenir a mortalidade de recém-nascidos e crianças.
por Pró-Vida — publicado 2021-05-18T16:46:53-03:00

A prática do aleitamento materno (AM), embora pareça a escolha mais natural, por
acreditar-se ser inerente à maternidade, é edificada socioculturalmente mais do que
determinada biologicamente. As atitudes e crenças das diferentes sociedades e culturas afetam a decisão materna em relação à amamentação e têm impacto significativo no
seu sucesso.

Assim, é preciso transformar o ambiente da mãe e seu sistema de apoio, o que é facilitado quando os bancos de leite humano (BLH) são incluídos como parte de um programa
abrangente de promoção do AM, pois dessa forma a percepção geral do valor do leite
humano (LH) aumenta e todos os bebês podem ser beneficiados.
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) é uma das iniciativas do
eixo estratégico de AM e alimentação complementar saudável da Política Nacional
de Atenção Integral à Saúde da Criança, do Ministério da Saúde. Com a articulação
interinstitucional bem-sucedida, de educação permanente e continuada de seus profissionais, e da implementação de rigoroso controle de qualidade, a rBLH-BR procura garantir atendimento de excelência, e a distribuição de um produto seguro para as mães e seus recém-nascidos.
Sendo muito bem estruturada, dispondo do maior número de unidades de BLH e
postos de coleta no mundo e adotando uma abordagem holística com foco na assistência às nutrizes, a rBLH-BR não é apenas um centro de processamento lácteo, mas oferece locais seguros para que as mulheres busquem ajuda e possam seguir amamentando. Isto, independentemente de elas serem ou não doadoras de LH.
E essa organização tem feito toda a diferença nestes tempos de pandemia da COVID-19,
que trouxe muitos desafios aos BLH de todo o mundo, especialmente no que diz respeito ao declínio das doações.
Tendo o ensino como um projeto estratégico, a rBLH-BR rapidamente se mobilizou e
trabalhou em conjunto para tentar uma solução integrada. Cada unidade teve que, de
alguma forma, ser reestruturada para permitir atendimento com segurança e garantir a
qualidade da assistência a todas as pacientes, bem como a coleta de LH.

A disponibilidade de estações para lavagem das mãos e a utilização correta de equipamentos de proteção individual, medidas indicadas para a prevenção da infecção por SARS-CoV2, sempre fizeram parte das cuidadosas rotinas dos BLH para diminuir os riscos à equipe de saúde, garantindo sua segurança, bem como a do produto lácteo por ela manipulado.
O uso das novas tecnologias, tais como o aplicativo de mensagens WhatsApp e recursos
de Telessaúde, entre outras, associado à comunicação via telefone, já bastante conhecida nos BLH, permitiu a manutenção do apoio às lactantes nas questões relacionadas ao
AM, mesmo que, em muitos casos, à distância, além do fornecimento de informações
precisas e atualizadas a potenciais doadoras.
Assim, em 2020, apesar do grave e complexo desafio sanitário causado pelo novo
Coronavírus, ainda foram realizados 1.315.510 atendimentos individuais a nutrizes pelos BLH brasileiros, e coletados 191.373,2 litros de leite materno, que beneficiaram 180.763 neonatos.
A conscientização dos profissionais de saúde, sobretudo dos pediatras, e de um número
cada vez maior de mulheres a respeito da importância da doação de leite é vital, pelos
impactos positivos da atuação dos BLH no campo da saúde materno infantil.
Neste contexto, destaca-se um dos grandes desafios da rBLH, que é a captação de doadoras em número suficiente. É a participação importante e crescente dessas mulheres
que, ao doarem o seu excedente lácteo, permitem aos BLH processar e distribuir LH
em quantidade adequada para suprir as necessidades dos seus receptores prioritários, os
neonatos pré-termo e/ou de baixo peso.
É sabido que o leite materno fresco favorece a maturação digestiva e imunológica e
reduz complicações da prematuridade, como enterocolite necrosante, retinopatia da
prematuridade, sepse tardia e displasia broncopulmonar. No entanto, dar à luz a um
recém-nascido pré-termo, que fica hospitalizado por tempo prolongado, vem acompanhado de dificuldades particulares no estabelecimento da lactação, e é fundamental
que essas mães recebam auxílio de profissionais capacitados dos BLH para o estabelecimento de uma rotina de extração láctea e acondicionamento do LH ordenhado.
Também o LH pasteurizado é muito importante para os prematuros, pois embora a
pasteurização inative completamente os componentes celulares do leite, e parcialmente
outros constituintes imunológicos, parte de sua atividade antimicrobiana ainda é retida
e, curiosamente, há aumento de alguns fatores imunomoduladores. Considerando que
as infecções e a maior parte das complicações da prematuridade têm um componente
de inflamação em suas vias causais, o leite de BLH, com algumas de suas propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias mantidas, pode ajudar a regular a resposta
inflamatória neonatal neste caso.
E no Brasil, podemos contar com este primoroso trabalho em rede, para ajudar a promover uma cultura em favor da amamentação, priorizando uso do leite da própria mãe, e garantindo a segurança alimentar do LH processado com qualidade para os pequenos pacientes, quando apropriado.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria