Ceratocone

É uma doença da córnea tipo ectasia, na qual a córnea aumenta sua curvatura de forma irregular e assume formato de cone. Esta alteração causa astigmatismo com irregularidade, o que leva a distorção das imagens e determina limitação para a eficiência das lentes esfero-cilíndricas de óculos.
por Pró-Vida — publicado 2019-06-12T14:22:00-03:00

O ceratocone ocorre por perda da rigidez do estroma da córnea, num processo de falência biomecânica que cursa com afinamento e protrusão da região central ou para-central. A doença é bilateral (acomete ambos os olhos) e tem caráter progressivo, porém é comum haver assimetria entre os olhos (um dos olhos ser mais acometido). Inicia-se geralmente na adolescência, afeta um pouco mais as mulheres do que os homens, e evolui geralmente até 30 ou 35 anos, quando geralmente ocorre uma estabilização natural.

O principal sintoma é o embaçamento e distorção da visão. Em geral, ocorre miopia e astigmatismo, que aumentam levando a uma necessidade de troca frequente de óculos. Estes deixam de fornecer uma visão adequada devido a irregularidade, de acordo com a progressão da doença. O ceratocone é tipicamente indolor e não inflamatório (não deixa o olho vermelho). Coceira nos olhos é frequente pois há grande associação com alergia ocular. Entretanto, o ceratocone pode ser diagnosticado em fase inicial da doença em pacientes assintomáticos (sem sintomas ou queixas).

As estatísticas clássicas da literatura especializada reportam a incidência de 1 caso para cada 2.000 pessoas (0,05%). Entretanto, esta incidência parece ser bem maior se aplicarmos estudos de screening, chegando a 6% da pessoas com interesse em realizar Cirurgia Refrativa. 

Infelizmente, não há maneiras de prevenir o surgimento do ceratocone. Existe associação com fatores hereditários e genéticos, porém ainda não há testes genéticos para diagnóstico da doença.

Sabemos que a progressão da doença está relacionada ao trauma contínuo. Com isso, o hábito de coçar os olhos deve ser evitado, pois é o fator de risco mais bem definido para o aparecimento ou agravamento da doença. O diagnóstico em fases precoces da doença ou a identificação de indivíduos mais susceptíveis (com maior predisposição) é importante para direcionar a orientação para não coçar os olhos e tratar a alergia ocular que pode estar associada. 

O diagnóstico de ceratocone envolve exame oftalmológico completo e exames complementares para caracterização da córnea.

O tratamento é feito de acordo com o estágio do ceratocone, com o grau de irregularidade existente e com características gerais de cada paciente. A orientação do paciente e da família são aspectos fundamentais do tratamento. O tratamento da alergia ocular é fundamental e a orientação de não coçar os olhos.

Na fase inicial, a prescrição de óculos pode reestabelecer a visão de forma eficiente. Em fases mais avançadas, devido à irregularidade, os óculos não são mais eficientes. Nessa fase, a adaptação de lentes de contato especiais é capaz de promover boa visão.

Nos casos em que nem os óculos, ou as lentes de contato permitam uma visão satisfatória, recorre-se ao tratamento cirúrgico. Outra indicação de cirurgia seria a progressão da doença documentada por exames sequenciais.

O tratamento cirúrgico está classicamente indicado com o objetivo de melhorar a visão e permitir reabilitação visual e para estabilizar a progressão da doença.

O tratamento cirúrgico era exclusivamente o transplante de córnea até meados dos anos 1990. Entretanto, há cirurgias alternativas que podem ser indicadas para o ceratocone com diferentes objetivos em diferentes fases da doença.

Em 1996, foi descrito o uso de segmentos de anel para implante intra-corneano (SAIC) com o objetivo de regularização e aplanamento da córnea. O oftalmologista brasileiro de Belo Horozonte, Dr. Paulo Ferrara, e o francês de Bordeaux, Dr. Joseph Colin, foram os primeiros a descrever, de forma independente, o uso de anel para ceratocone.

No final da década de 90, o grupo do Prof. Theo Seiler em Dressden, Alemanha, descreveu o tratamento para promoção de ligações covalentes no colágeno do estroma da córnea (crosslinking) com o objetivo de aumentar a rigidez do tecido e, com isso, estabilizar a doença (ectasia).

A ablação de superfície avançada (ASA) personalizada por excimer laser pode ser indicada para regularização da superfície da córnea, com o objetivo de reduzir o astigmatismo irregular. A mesma cirurgia é comumente aplicada na correção visual a laser para tratamento refrativo (miopia, hipermetropia e astigmatismo), com o objetivo de reduzir a dependência de correção visual por óculos ou lentes de contato. Entretanto, o objetivo da ablação de superfície personalizada para ceratocone deve ser diferenciada. No caso da ASA para ceratocone, o objetivo é terapêutico, não seendo a correção do grau de refração, mas sim a redução da irregularidade, possibilitando melhor visão corrigida por óculos. 

A combinação da ablação de superfície personalizada como crosslinking é denominada como Protocolo de Atenas e foi descrita pelo oftalmologista grego Dr. John A. Kanellopoulos.

O implante de LIO fácica está indicado para para tratamento refrativo (miopia e astigmatismo). Esta cirurgia está classicamente indicada em casos de anisometropia (diferença de grau entre os olhos), mas pode ser realizada  como alternativa a correção por óculos e lentes de contato de forma eletiva (opcional). 

Dependendo do caso, estes procedimentos podem ser combinados em um mesmo paciente.

Caso o ceratocone esteja muito avançado e não seja possível nenhum desses procedimentos, aí então recorremos ao transplante de córnea. É importante ressaltar que após o transplante o paciente tem uma “vida nova” que requer cuidados especiais. E o fato de ter realizado o transplante não significa que a doença não possa ocorrer novamente.

 

 FONTE: www.tudosobreceratocone.com.br