Crononutrição: leite materno fornece informações sobre a hora do dia para os bebês

Além de ser uma refeição completa, pesquisadores descobriram que o leite materno também serve como "relógio", isto é, sua composição muda ao longo do dia. Entenda!
por pró-saúde — publicado 2020-08-04T14:58:00-03:00

Na Semana Mundial do Aleitamento Materno — oficialmente estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e UNICEF, em 1992 —, uma recente descoberta prova que o leite materno é muito mais do que uma refeição. Psicólogos da University of Southern California, nos Estados Unidos, descobriram que ele também é capaz de fornecer aos bebês informações sobre o momento do dia.

É que a composição vai mudando ao longo do dia, ou seja, a mãe é capaz de produzir um leite energizado pela manhã e um coquetel de ingredientes diferente e reconfortante à noite. Os cientistas acreditam que essa "crononutrição" pode ajudar a programar a biologia circadiana dos bebês — o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos —, permitindo a eles distinguirem o dia da noite.

Relógios corporais ao longo do dia

Sabemos que os bebês não nascem com ritmos totalmente estabelecidos. Sua sensação de dia e noite se desenvolve nas primeiras semanas e meses de vida, graças a sinais como a luz do sol e a escuridão. Além disso, os bebês variam: alguns mostram flutuações circadianas previsíveis nos hormônios ligados ao estado de alerta, sono e apetite, e podem dormir por longos períodos logo após o nascimento. Já outros parecem ter seus ritmos diários de ponta-cabeça por meses. Atrasos no desenvolvimento da biologia circadiana podem aumentar o risco de cólica e levar a problemas de crescimento e alimentação.

Mas os cientistas ainda sabem muito pouco sobre por que a biologia circadiana entra em cena em horários tão diferentes para bebês diferentes. Mas uma das respostas pode estar no leite materno, que pode ajudar a programar os ritmos circadianos infantis, ajudando a explicar por que alguns pais de recém-nascidos desfrutam de longas noites de sono, enquanto outros lutam para fazer com seus filhos entrem em uma rotina.

O que acontece com o leite

Segundo os pesquisadores, o leite materno muda drasticamente ao longo do dia. Por exemplo, os níveis de cortisol — um hormônio que promove o estado de alerta — são três vezes maiores pela manhã do que à noite. A melatonina, que promove o sono e a digestão, mal pode ser detectada no leite diurno, mas aumenta à noite e atinge o pico em torno da meia-noite. Descobriu-se também que o leite noturno também contém níveis mais altos de certos blocos de construção de DNA que ajudam a promover um sono saudável. Já durante o dia, o leite tem mais aminoácidos promotores de atividade. Mais ferro por volta do meio-dia ; vitaminas à noite; e minerais como magnésio, zinco, potássio e sódio são mais altos pela manhã.

Embora esteja claro que o leite muda ao longo do dia, os cientistas continuam focados em descobrir exatamente o que isso significa para a saúde infantil. Eles já sabem que os hormônios e os componentes imunológicos do leite materno são transmitidos aos bebês e que eles estão começando a desenvolver e refinar seus próprios ritmos circadianos durante os primeiros meses de vida. É plausível que os sinais cronológicos no leite materno ajudem a moldar a própria biologia circadiana das crianças. Diferenças nos padrões de alimentação infantil podem ajudar a explicar por que há tamanha variabilidade no desenvolvimento desses ritmos diários de um bebê para outro.

 

Leite tirado com as bombas

No entanto, nem sempre o leite materno é consumido diretamente da mama, o que significa que, necessariamente, ele não é ingerido no momento em que é produzido. Prova disso é que de acordo com uma pesquisa realizada entre 2005 e 2007, mais de 85% das mães que amamentam nos Estados Unidos bombearam seu leite. O que acontece, então, quando os bebês bebem leite noturno pela manhã ou leite matinal ao final da tarde? Os cientistas ainda não sabem responder a essas questões.

No entanto, presume-se que oferecer à uma criança uma mamadeira do leite matinal à noite, com seu alto nível de cortisol e baixa melatonina, pode fazer com que o bebê tenha dificuldade para dormir. Se os sinais cronológicos no leite realmente ajudam a calibrar a biologia circadiana infantil, então os bebês que bebem leite tirados por bombas podem ter mais dificuldades com o sono, a digestão e o desenvolvimento.

A saída para isso, sugerem os pesquisadores, seria rotular o leite com o momento do dia em que foi retirado e coordenar a alimentação infantil para oferecer leite matinal pela manhã, leite à tarde e leite noturno à noite. "Se isso se tornar uma prática padrão em UTIs neonatais, acreditamos que milhares de bebês poderiam se beneficiar do leite servido na hora certa, ajudando-os a regular melhor seus ritmos circadianos. Muitas já adotaram práticas destinadas a regular melhor a biologia circadiana infantil, como o escurecimento das luzes à noite, e o leite combinado no tempo certo seria o próximo passo. Da mesma forma, os bancos de leite que aceitam o leite doador podem separar o leite em lotes por hora do dia", sugerem.

Além disso, o estudo sugere aumentar a capacidade das mulheres de amamentar seus bebês no local, oferecendo políticas de licença parental pagas e razoáveis. Já que, além de não precisarem se preocupar em organizar o leite na hora do dia, o leite que é oferecido diretamente da mama pode proprocionar outros benefícios à saúde.

FONTE: Revista Crescer on line