DIA NACIONAL DE COMBATE AO FUMO - Tabagismo e coronavírus: segunda fase

por pro-vida — publicado 2020-08-25T16:32:04-03:00

O Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.

Criado em 1986 pela Lei Federal 7.488, o Dia Nacional de Combate ao Fumo inaugura a normatização voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva.

Em 2020, a data continua a trabalhar o tema Tabagismo e coronavírus (Covid-19). Isso porque o tabagismo — também considerado uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — tem papel de destaque no agravamento da pandemia de Covid-19, já que é fator de risco para transmissão do vírus e para o desenvolvimento de formas mais graves de Covid-19.

A campanha também aborda a importância do não fumar e de adotar comportamentos saudáveis no momento que houver retorno gradual a atividades cotidianas.

COMO O TABAGISMO PODE AGRAVAR A INFECÇÃO CAUSADA POR COVID-19?

 Como dito, o comportamento de fumar, em si, já é um facilitador da infecção. Isso porque o indivíduo encosta os dedos na boca. No caso do narguilé, a mangueira pode ser compartilhada e passa, de mão em mão e de boca em boca. Há relatos de compartilhamento também de dispositivos eletrônicos para fumar. Uma vez infectado, é possível ainda que o fumante ajude a propagar o coronavírus no ambiente, por meio de emissão da fumaça que, na realidade é um aerossol. Além disso, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o tabagismo aumenta o risco de complicações de dezenas de doenças, em especial, as cardiovasculares isquêmicas, infarto do miocárdio e derrame cerebral, doenças respiratórias (bronquite e enfisema) e diversos tipos de câncer. Diversas pesquisas identificaram que entre os pacientes com pneumonia por Covid-19, as chances de progressão para formas mais graves da doença, com insuficiência respiratória e morte, foram significativamente maiores em fumantes do que entre não fumantes. Isso acontece provavelmente porque, em geral, os fumantes já apresentam doenças pulmonares ou capacidade respiratória reduzida, além de complicações cardiovasculares relacionadas ao tabagismo. Outra possível explicação seria o impacto nocivo que as substâncias tóxicas da fumaça do tabaco ocasionam no sistema imunológico dos fumantes, tornando-os mais suscetíveis a desenvolverem infecções virais, bacterianas e por fungos. Além dos cigarros comuns, os dispositivos eletrônicos para fumar e o narguilé podem causar danos aos pulmões e reduzir a capacidade de resposta a infecções.

NICOTINA E COVID-19

Os produtos derivados do tabaco têm como princípio ativo a nicotina, que causa dependência física e psíquica. Ela é uma droga psicoativa que atua no cérebro na função cognitiva, incluindo memória, atenção seletiva e processamento emocional. Além de estimulante, a nicotina reduz o apetite, aumenta o batimento cardíaco, a pressão arterial, a frequência respiratória e a atividade motora. A nicotina não causa o câncer de pulmão, mas pode promover o seu crescimento e diminuir a eficácia dos tratamentos convencionais como quimioterapia e radioterapia. Além disso, a nicotina provoca vasoconstrição periférica e aumento da resistência vascular periférica, tendo efeito negativo sobre o sistema cardiovascular e papel relevante no desenvolvimento de hipertensão arterial, justamente as doenças que estão identificadas nos grupos de maior risco de complicações e desfechos desfavoráveis da Covid-19. Em abril, o estudo francês A nicotinic hypothesis for Covid-19 with preventive and therapeutic implications, publicado no New England Journal of Medicine, levantou a hipótese de que a nicotina poderia ter papel protetor na infecção por Covid-19. Tal conclusão deve ser vista com muita cautela. Primeiro, porque trata-se de pesquisa publicada preliminarmente em uma plataforma virtual aberta, sem a recomendada revisão de pares, e também não há informação de terem submetido as pesquisas a um comitê de ética. Segundo, porque alguns fatores externos poderiam ter influenciado a premissa de que a baixa prevalência de fumantes entre pacientes hospitalizados por Covid-19 representa de forma acurada uma baixa taxa de infecção real e de suas complicações entre fumantes. Portanto, o INCA vê com grande preocupação a repercussão desse estudo em plena pandemia da Covid-19 e a possibilidade de que possa gerar interpretações de que fumar cigarros comuns ou eletrônicos é bom para prevenir a Covid-19 ou levar a automedicação com adesivos à base de nicotina sem orientação médica. Por este motivo, foi lançada nota de esclarecimento no site do INCA sobre tal estudo.

FUMO PASSIVO E COVID-19

Pessoas que não fumam, mas moram ou convivem com pessoas que fumam, também sofrem agressões pulmonares que as tornam mais vulneráveis a infecções respiratórias e, possivelmente, às complicações da Covid-19. Devido ao distanciamento social, o tempo passado dentro de casa aumentou significativamente. Por isso, é importante lembrar que quem fuma em casa faz com que seus companheiros, filhos, demais familiares e até mesmo animais também fumem, tornando-os fumantes passivos. Isso significa que todos respiram as mesmas substâncias tóxicas dos derivados do tabaco, que se espalham no ambiente. É preciso lembrar que o tabagismo passivo é a inalação da fumaça de derivados do tabaco, tais como cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros produtores de fumaça, por indivíduos não fumantes, que convivem com fumantes em diferentes ambientes respirando as mesmas substâncias tóxicas que o fumante inala.

A fumaça do tabaco contém mais de 7.000 compostos e substâncias químicas. Estudos indicam que no mínimo 69 destes compostos e substâncias provocam câncer. A fumaça é uma mistura de milhares de substâncias tóxicas diferentes que se constituem de duas fases fundamentais: a particulada e a gasosa. A fase gasosa é composta, entre outros por monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. A fase particulada contém nicotina e alcatrão. A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode acarretar desde reações alérgicas (rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma) em curto período, até infarto agudo do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos expostos por longos períodos. Crianças e bebês são particularmente mais suscetíveis ao tabagismo passivo e com risco aumentado de desenvolver doenças respiratórias, doença do ouvido médio e a síndrome da morte súbita infantil. Mulheres grávidas expostas ao tabagismo passivo correm maior risco de natimorto, malformações congênitas e feto com baixo peso ao nascer. Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo e a única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o tabagismo em ambientes fechados.

DISTANCIAMENTO SOCIAL E TABAGISMO

O distanciamento social, uma das medidas de contenção de contágio pelo coronavírus, pode ser associado, por algumas pessoas, como um momento de estresse e angústia. Para um tabagista, o uso de produtos de tabaco pode ser tido como uma “válvula de escape”. Portanto, mesmo com os riscos da relação entre tabagismo e Covid-19, os fumantes podem manter ou, até mesmo aumentar, o consumo desses itens. Em países da Europa em quarentena, com Itália e Espanha, não foi observada a diminuição de venda de produto de tabaco: pelo contrário, tabacarias puderam permanecer abertas, já que cigarros foram considerados produtos essenciais. Contudo, esse momento também pode ser tido como um estímulo para o cuidado com saúde, incluindo a cessação do tabagismo. Isso porque, ao deixar de fumar, são observados benefícios imediatos: após 12 a 24 horas sem fumar os pulmões dos fumantes já funcionarão melhor. Além de evitar aglomerações, lavar as mãos com água e sabonete ou usar álcool em gel para higienizá-las, não compartilhar objetos pessoais e manter ambientes bem ventilados para prevenir o contágio pelo coronavírus, é muito importante parar de fumar.

Algumas orientações para quem deseja para de fumar são:

  1. Marque uma data ainda esta semana para deixar de fumar.
  2. Enquanto não chega o dia que você marcou, reduza o número de cigarros diariamente, começando pelo adiamento do primeiro cigarro do dia. Não fume logo depois do café da manhã, do almoço, do lanche e do jantar. Essas medidas ajudam a diminuir o número de cigarros e vão preparando seu corpo para o dia da parada.
  3. Um dia antes da data que marcou para deixar de fumar, quando for dormir, molhe com água todos os cigarros que sobraram no maço e jogue-os no lixo.
  4. Não deixe nenhum cigarro para o dia seguinte porque, se tiver vontade de fumar e não tiver cigarros em casa, você terá mais sucesso, até porque você não sairá para comprar porque não se deve sair à rua devido ao risco da contaminação pelo coronavírus.
  5. Se der vontade de fumar, lembre-se que A VONTADE DE FUMAR SÓ DURA CINCO MINUTOS. Para se distrair nesses cinco minutos: ligue a televisão, tome um banho, coma uma fruta, faça um exercício respiratório... Enfim, faça alguma atividade para esse tempo passar.
  6. Lembre-se de que essa vontade de fumar irá diminuir à medida que os dias forem passando. Tenha paciência.

TABAGISMO E COVID-19 NO BRASIL

O Brasil é um país populoso e, cerca de 20 milhões de pessoas são fumantes no país (quase duas vezes a população de Portugal). O custo anual das doenças provocadas pelo tabagismo no país, em 2015 foi de aproximadamente R$ 57 bilhões. Já a arrecadação de impostos sobre produtos de tabaco é menor que R$ 13 bilhões ao ano. Observa-se, portanto, um prejuízo para o Brasil. Assim, não se pode ignorar que o tabagismo, enquanto possível fator de agravamento da infecção por Covid-19, também contribuirá para ampliar os gastos com equipamentos e insumos necessários para o enfrentamento dessa pandemia. Apesar de todo o esforço, no Brasil, cerca de 19% dos adolescentes entre 13 e 15 anos ainda experimentam cigarros. E aproximadamente 80% dos jovens que evoluem para fumar regularmente o fazem antes dos 19 anos (idade média, 16,5 anos).

Face às evidências de estudos em curso sobre as severas implicações do tabagismo no agravamento da Covid-19, a intensificação de ações nacionais de controle do tabaco, inclusive no âmbito legislativo, pode contribuir para a redução da morbimortalidade causada pelo novo coronavírus.

 

Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer

 

Observação: O Pró-Vida realizará mais um grupo de apoio à cessação do tabaco.

As inscrições estarão abertas a partir do dia 27/08/20.

Fiquem atentos às orientações na Intranet.

Qualquer dúvida entre em contato pelo e-mail: sesa.cam@tjdft.jus.br