Gestão do estresse em tempos de crise
Onde você imaginou que estaria em agosto de 2020? Em algum momento você imaginou estar passando por uma situação de isolamento social, tendo que usar máscaras e trabalhando compulsoriamente de forma remota?
Na situação de pandemia provocada pelo Covid – 19 o estresse passou a ser personagem principal na vida da maioria das pessoas: conseguir equilibrar vida pessoal e trabalho, gerenciar o medo de contaminação, temer (e as vezes ter que lidar) com perdas tornou-se uma verdadeira ameaça para as pessoas.
Em situação de crise, podemos agir (respostas voluntárias) ou reagir (respostas automáticas) a situação, sendo que a segunda opção pode levar a um maior adoecimento e por vezes pode paralisar totalmente as pessoas.
As respostas automáticas geram pouco controle sobre nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos frente ao estresse. Dessa forma, podemos ter mais dificuldade para lidar com os acontecimentos: preocupações improdutivas, pensamentos repetitivos e intrusivos, dificuldades para dormir, reatividade emocional e falta de concentração.
Já as respostas voluntárias, apesar de exigirem esforço do indivíduo, trazem maior sensação de controle e geram enfrentamento mais consciente às diversas situações estressantes a que estamos expostos.
Marilda Lipp (1984), dentro de uma abordagem cognitivo-comportamental, define o estresse como "uma reação psicológica, com componentes emocionais físicos, mentais e químicos, a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa"
Em tempos de crise, apresentar nível zero de estresse não parece ser possível, por isso falar em gestão de estresse é tão importante, pois o excesso está na base de muitas doenças físicas e emocionais.
Abaixo seguem algumas estratégias de ação (respostas voluntárias) para ajudar a gerenciar o estresse em épocas de crise:
1) Busque pessoas para acolher suas demandas emocionais (no Tribunal temos o Núcleo Psicossocial na SESA), elas podem ajudar a entender e gerenciar suas emoções, que podem parecer muito confusas em épocas de crise.
2) Questione pensamentos que podem estar potencializando seu estresse: “isso nunca vai passar”, “é daqui para pior”, “eu vou perder alguém” podem aumentar a sensação de desesperança.
3) Se você ainda não tem o hábito de praticar exercícios físicos, essa pode ser a hora! Prefira exercícios de baixa intensidade e alongamentos para começar. Essa prática pode te trazer uma sensação de bem estar.
4) Por falar em sensação de bem estar, busque se distrair com atividades prazerosas e que te deem satisfação, sempre que possível.
5) Não seja perfeccionista, esse não é o momento. Busque fazer as atividades da forma correta, sem exigir demais de você.
6) Converse com gestor e colegas de trabalho, não se isole, estamos todos atravessando uma tempestade, mas com dores e estratégias de enfrentamento diferentes. É momento de união, empatia e apoio mútuo.
7) Divida tarefas domésticas com todos que moram na mesma casa e delegue responsabilidades. A carga mental, principalmente para mulheres, das atividades domésticas potencializam o estresse e podem levar a exaustão e esgotamento.
8) Pratique a aceitação. Aceitar não é resignar-se, é abrir mão de tentar controlar o que não tem controle e agir nas situações que podem ser administradas. As coisas são como são e não como gostaríamos que fossem e está tudo bem.
9) Acredite no princípio da impermanência: As coisas mudam e, por mais difícil que esteja a atual situação, isso vai passar.
O estresse é a consequência do esforço psicofísico para encarar um obstáculo. Na psicoterapia, para administrar o stress, tratamos de aumentar os recursos da pessoa, para que o seu potencial suba e possa enfrentar o desafio de cima para baixo.
O stress em si não é uma coisa ruim. Sem ele, o ser humano ficaria vulnerável e não conseguiria lutar, trabalhar ou criar com a necessária energia. O ruim é o excesso de stress ou a falta de controle sobre ele.
Quer saber mais sobre o estresse e ferramentas práticas para gerenciá-lo melhor? Assista a palestra: Penso, logo me preocupo: como gerenciar o estresse em tempos de crise.
Autoria: Kátia de Lima (Psicóloga do NPI/CAM/SESA)
Lipp, M. e. N. (1984). Stress e suas implicações. Estudos de Psicologia, Campinas, v.1, n.3 e 4, p. 5-19, ago/dez.
Clark, D e Beck, A (2012). Vencendo a ansiedade e preocupação com a terapia cognitivo comportamental. Artmed. Porto Alegre.