Inteligência Emocional: como anda a sua?

Por mais difícil que seja se relacionar com outras pessoas, uma vez que todas são diferentes umas das outras, agem e reagem de maneiras distintas a cada situação, é de suma importância desenvolver e ampliar a capacidade de relacionar-se.
por Pró-Vida — publicado 2018-09-25T18:29:00-03:00

Inúmeras vezes durante a nossa vida profissional lamentamos as dificuldades enfrentadas em nosso ambiente de trabalho. Em grande parte das vezes, mais do que desmotivação com as tarefas, as dificuldades estão relacionadas a alguém: ao chefe ou gestor; a colega(s) de trabalho ou aos subordinados. Tais dificuldades contribuem enormemente para a insatisfação no trabalho, por alguns adoecimentos, para a rotatividade e absenteísmo, e podem comprometer a produtividade e os resultados finais.

Raras vezes há “espaço” nos próprios ambientes de trabalho de se falar sobre essas dificuldades e, quiçá, sobre os sentimentos gerados pelas relações interpessoais. Raras são as possibilidades de espaços coletivos de discussão sobre o aspecto interpessoal no ambiente de trabalho. Quando isso acontece e os indivíduos encontram “espaço” e “permissão” para falar das dificuldades vivenciadas no trabalho com seus colegas, pares e até mesmo chefias, o trabalho fica mais leve, as dificuldades mais suportáveis, além de funcionar como fator de proteção para adoecimentos, especialmente os de ordem emocional.

Por mais difícil que seja se relacionar com outras pessoas, uma vez que todas são diferentes umas das outras, agem e reagem de maneiras distintas a cada situação, é de suma importância desenvolver e ampliar a capacidade de relacionar-se. Isso requer de nós investimento nas relações interpessoais na vida pessoal e no ambiente de trabalho; esforço, que inclui: aceitação das diferenças, respeito mútuo, saber ouvir; empatia; cooperação; valorização do trabalho em equipe, entre outros aspectos. Mas, principalmente, requer de nós relacionar-se bem consigo próprio.

Contudo, como me relacionar com o outro se não consigo relacionar-me bem comigo mesmo? Como me comunicar de forma clara e assertiva se desconheço meu funcionamento psicoemocional? Como ter autocontrole se desconheço minhas emoções?

Aprender a relacionar-se consigo mesmo é ir a busca de autoconhecimento, ampliar a consciência de suas próprias emoções, sentimentos e pensamentos. Esse aprendizado é desenvolvido ao longo da vida em diversas etapas e de diversas formas, em um trajeto temporal próprio de cada pessoa e requer especialmente desenvolver a inteligência emocional.

O aspecto emocional do ser humano tem sido negligenciado através dos tempos; a começar pelas famílias. Nestas não se dá uma educação emocional às crianças. Os pais preocupam-se em dar uma educação social baseada em regras de comportamento e conduta. A escola, por sua vez, também não se preocupa com esse lado emocional, mas sim com a formação intelectual das crianças. (Felizmente, hoje em dia, algumas escolas tem se dado conta da importância da alfabetização emocional para o aprendizado e para a formação integral das crianças.)

A primeira concepção de inteligência que surgiu considerava-a como aptidão geral intelectual. Inteligência era definida como capacidade geral de resolver problemas: o homem mais inteligente seria aquele que melhor resolve os problemas novos. A partir desta primeira concepção, originaram-se os testes de inteligência. (Moscovici, 1997).

Mais adiante, no final da década de 30, começaram os estudos de análise fatorial da inteligência. Eles já reconheciam a inteligência geral subdividida em vários tipos de inteligências. Entre 1940 e 1950, apareceram os trabalhos precursores de Thurstone e Guilford. O primeiro identificou seis fatores de inteligência (espacial, verbal, numérico, fluência verbal, raciocínio e memória) e o segundo separou cinco tipos de operação mental (memória, cognição, pensamento convergente, pensamento divergente e avaliação).

A evolução deste conceito fatorial de inteligência foi retomada por Howard Gardner, quando publicou seu livro em 1983. Gardner distinguiu um espectro de inteligência com sete variedades: a inteligência acadêmica padrão (dividida em vivacidade verbal e matemática-lógica), aptidão espacial, gênio cinestésico, dom musical e inteligência pessoal (dividida em aptidões interpessoais e aptidão intrapsíquica).

A aptidão interpessoal abrange quatro variedades: liderança, relacionamento, resolução de conflitos e análise social. A pessoa que desenvolve essa aptidão pode estabelecer relações, manter amizades, resolver conflitos, fazer uma leitura psicossocial do que está acontecendo em seu ambiente social. Ou seja, é capaz de ter melhores relacionamentos e melhor rendimento em lideranças. A outra aptidão da inteligência pessoal é a intrapsíquica, isto é, saber reconhecer e lidar com as próprias emoções. É ter intuição voltada para dentro de si, voltada para suas necessidades e sentimentos.

Este conceito de inteligências múltiplas, desenvolvido por Gardner, mostra que a inteligência é composta por aspectos intelectuais e aspectos não-intelectuais. E foi exatamente sobre os aspectos não-intelectuais da inteligência - a inteligência pessoal, que Daniel Goleman, psicólogo PhD da Universidade de Harvard, pesquisou. Ele foi o responsável por popularizar o conceito da inteligência emocional ao redor do mundo, ao escrever seu livro “Inteligência Emocional”, em 1986; sendo considerado, portanto, o “pai da inteligência emocional”.

Daniel Goleman define a Inteligência Emocional como a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”. Em outras palavras, “a inteligência emocional é formada por um conjunto de competências relacionadas à capacidade de administrar de forma adequada as próprias emoções e, também, as alheias.” (GROP, 2009).

Ter inteligência emocional é um dos aspectos importantes de uma pessoa, pois favorece as relações com os demais e consigo mesmo, melhora a aprendizagem, facilita a resolução de problemas e favorece o bem-estar pessoal e social.

O que Daniel Goleman chamou de inteligência emocional é o que hoje é denominado competência emocional, que se constitui em “um conjunto de aspectos emocionais que estão incluídos na competência interpessoal.” (Moscovici, pg.20).

O que existe nas pessoas são dois tipos de competências que se interrelacionam: a competência técnica e a competência interpessoal. A competência técnica é decorrente de estudo, de aquisição de conhecimento; é a capacitação profissional, importantíssima para qualquer função que se vai exercer na vida, no trabalho. Contudo, ela não é suficiente, pois as pessoas não vivem sozinhas ou trabalham de forma isolada; elas vivem em sociedade e trabalham em conjunto com outras pessoas. E para viverem e se relacionarem bem, de forma emocionalmente equilibrada, elas precisam desenvolver a competência emocional: conjunto de habilidades que podem ser desenvolvidas e treinadas desde a infância até a fase adulta.

Goleman descreve as cinco habilidades-chave da inteligência emocional e como elas determinam nosso êxito nos relacionamentos e no trabalho, e até no nosso bem-estar físico. São elas: autoconhecimento emocional, controle emocional, automotivação, reconhecimento das emoções em outras pessoas e relacionamentos interpessoais.

Em 1997 um grupo de pesquisadores (denominado GROP) da Universidade de Barcelona-Espanha se juntou para se dedicar ao estudo da Educação Emocional, entendida como um aspecto da orientação para a prevenção e o desenvolvimento humano. Em 2009 publicaram um livro em que definem cinco blocos de competências emocionais, muito similar às habilidades-chave descritas por Goleman.

As competências emocionais, portanto, seriam:

- Consciência emocional: é a capacidade de reconhecer, estar consciente das próprias emoções e necessidades e das emoções dos outros. Pessoas com esta habilidade desenvolvida são melhores “pilotos” das suas vidas; e o contrário, é ficar à mercê das emoções.

            Reconhecer as emoções nos outros, possibilita a construção de outra habilidade, a empatia. Ela permite às pessoas reconhecerem necessidades e emoções nos outros, permitindo-lhes a construção de relacionamentos mais eficazes.

- Adequação emocional: é a habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida. É a capacidade para controlar as emoções de forma apropriada; para tanto, é necessário ter consciência das emoções.

- Autonomia emocional: é a capacidade para gerar, em si mesmo, as emoções apropriadas em um momento determinado. Isso inclui uma boa auto-estima, atitude positiva diante da vida e responsabilidade.

- Habilidades socioemocionais: é a habilidade de interação com outros indivíduos, utilizando competências sociais. Ou seja, é a capacidade para manter boas relações com os outros. O relacionamento é, em grande parte, a habilidade de gerir sentimentos de outros.

Existem muitas outras definições para explicar o que são habilidades socioemocionais, entretanto todas seguem a idéia de que são maneiras de agir que favorecem as relações entre as pessoas. São elas: a assertividade, empatia, saber escutar, definir um problema, avaliar soluções e a negociação.

- Habilidades para a vida e o bem-estar emocional: são comportamentos apropriados e responsáveis para confrontar aquilo que nos acontece, o que permite organizar nossa vida de forma sadia e equilibrada, facilitando experiências de satisfação ou bem-estar. Trata-se da capacidade de dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal. O bem-estar pessoal aparece quando experimentamos emoções positivas.

Assim, segundo Goleman, a consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência global do indivíduo e é a inteligência emocional a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. Em seu livro, ele mostra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções pode influenciar negativamente a vida pessoal e laboral de um indivíduo e dificultar sobremaneira suas relações interpessoais.

O especialista aponta que a maioria das situações de trabalho e da vida é envolvida por relacionamentos entre as pessoas. Isso significa que pessoas com qualidades de relacionamento humano têm mais chances de alcançar o sucesso. Sendo assim, uma empresa ou instituição sadia e de sucesso é aquela que promove o desenvolvimento da habilitação técnica, mas principalmente, da capacitação interpessoal ou socioemocional.

Enfim, a inteligência emocional ou competência emocional pode ser desenvolvida, treinada e aprimorada com a construção de novos hábitos, novas formas de pensar e se comportar. Portanto, todas as pessoas têm a possibilidade de melhorar e desenvolver qualquer uma das habilidades socioemocionais. 

 

 

   Karina Gil

                                                               Psicóloga NPI/CAM/SESA/TJDFT

Brasília, setembro/2018.