O “Novo normal” pós-COVID e as outras 3 epidemias

por pró vida — publicado 2020-06-30T17:53:52-03:00

Estamos vivendo uma pandemia sem precedentes e extremamente dinâmica, mas também estamos aprendendo muito e rapidamente com esta crise. Já se fala em um “novo normal” no retorno às atividades laborais com o fim da quarentena.

A doença biológica (COVID-19) causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) apresenta um largo espectro de formas clínicas que podem ser divididas em 3 grandes grupos (1):

A) Casos assintomáticos (de 20 a 44% do total de infectados), 

B) Uma grande maioria de casos leves a moderados (81% do total de casos sintomáticos): gripes e pneumonias leves que são tratados com isolamento domiciliar, quando factível.

C) Casos graves e muito graves (19% do total de casos sintomáticos): pneumonia com insuficiência respiratória grave e ou septicemia que necessitam sempre internação hospitalar.

Pois bem, esses são os efeitos biológicos da atual pandemia (1). Por outro lado, é fato que não vivemos apenas uma epidemia do vírus SARS-CoV-2, mas há também outras 3 epidemias não biológicas que estão impactando fortemente e de diferentes formas o nosso dia a dia, a saber:

1 – INFODEMIA: epidemia de fake news, o uso político-ideológico da informação científica e a super disseminação de notícias falsas (ingenuamente ou propositadamente) por indivíduos ou veículos de informação incautos ou mesmo inescrupulosos (2).

2 – PSICODEMIA: repercussões da pandemia na saúde mental das pessoas submetidas ao isolamento, ao desemprego, à crise econômica e às notícias tóxicas (2). Entre outros, ressalte-se estresse, insônia grave, pânico, burnout, diferentes graus de ansiedade e até depressão melancólica.

3 – SEDENTARIDEMIA: as mudanças em nossas rotinas e hábitos diários impostos pela quarentena nesta pandemia do Coronavírus tem propiciado o aparecimento de pelo menos 4 disfunções metabólicas, a saber: 

3.1) Ganho de peso: variando de 1 a 2 kg até 10% do peso anterior à epidemia.

3.2) Aumento no tempo de tela: em média, houve aumento de 5 hs/dia, 

3.3) Déficit de vitamina D por baixa exposição solar e 

3.4) Sedentarismo: houve uma diminuição de 2,3 hs/dia na prática de atividade física desde o início da quarentena (1).

Ora, a preservação da saúde tanto entre os indivíduos que já tiveram contato com o SARS-CoV-2 (assintomáticos ou sintomáticos) como entre os que ainda não o adquiriram, é crucial, especialmente agora que as pessoas estão voltando a suas atividades normais ou se preparam para retornar aos seus postos de trabalho. Nesse sentido, vale a pena ter em conta as 3 vertentes não biológicas da COVID-19 descritas acima e realizar, se for o caso, uma consulta médica bem-feita ou, se for o caso, um check-up pós-COVID.

Além disso, acaba de ser publicado um interessante artigo sobre a “Estratificação de Risco para Trabalhadores Durante a Pandemia de COVID-19” (3) que orienta e individualiza como devemos proceder neste retorno ao trabalho, de forma prudente e conscienciosa. Sinteticamente, o autor divide o risco em 2 vertentes: a) Risco Ocupacional de contrair o SARS-CoV-2, conforme a profissão e b) Risco de Evoluir com COVID-19 grave e morte, conforme a idade e a presença de comorbidades graves em cada pessoa. A partir daí, cada indivíduo é classificado em Risco Baixo, Moderado ou Alto e oportunamente orientado a retornar ao seu trabalho presencial com as devidas medidas de proteção ou a manter o seu home office, por exemplo (4).

Em conclusão, além do impacto biológico da epidemia do novo coronavírus é imperativo conhecermos as repercussões psico-sociais e econômicas da mesma na vida de milhares de pessoas. Na medida em que os governos reabrem suas economias, muitas famílias e trabalhadores estarão em risco e tanto a preservação da saúde quanto o retorno ao trabalho dos mesmos deverá ser realizado de forma prudente e de preferência, com uma orientação médica individualizada, especialmente os diabéticos, os obesos e os idosos (4).

Referências: 

(1) Kamps BS & Hoffmann C. COVID Reference. Third Edition 2020~3 Uploaded on 23 April 2020. www.CovidReference.com

(2) Ball P, Maxmen A. Battling the Infodemic. Nature. Vol 581, pg 371-374. Published online on 28 May 2020. 

(3) Larochelle MR. “Is It Safe for Me to Go to Work?” Risk Stratification for Workers during the Covid-19 Pandemic. NEJM.ORG Published online on 26 May 2020.

(4) LinkedIn, acessado em 21-06-2020:

www.linkedin.com/pulse/volta-ao-trabalho-p%25C3%25B3s-covid-l-clemente-s-p-rolim-md-msc-

FONTE: Site da Sociedade Brasileira de Diabetes

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