O Essencial

Desembargador Romão C. Oliveira*
por Desembargador Romão C. Oliveira — publicado 2018-07-06T10:15:00-03:00

O Essencial

O que é fundamental ganha a velocidade da luz e faz-se presente em qualquer lugar; o que é inútil, supérfluo ou pesado se perde na noite dos tempos ou evapora-se, transforma-se em fumaça, gerando a onda imaginária que os tolos denominam “passado” ou “futuro”.

O verbo contém a força indispensável para manter o discurso em movimento; se for utilizado no presente, poderá transformar poeira em ouro, água em néctar, pedras em ambrosias; se for exprimido no pretérito ou no porvir, será lamentações ou promessas irrealizáveis.

Os adjetivos e os advérbios são badulaques do discurso, muito ao gosto dos vaidosos, dos pessimistas e dos fraudadores. Os maus políticos abusam da forma verbal correspondente ao futuro, promessas que arrastam quilômetros de adjetivos e advérbios, transbordando, assim, ideia de falsário que pretende iludir eleitor incauto. Da mesma forma procedem vendedores astuciosos que pretendem alienar placebos, dando-lhes indumentárias de panaceia para todos os males. O discurso dos maus políticos e o arrazoado de qualquer embusteiro não contêm núcleo proveitoso, o essencial, que é o elemento necessário a certa realização. E o indispensável não advirá do passado nem é encontrável no futuro; está sempre no presente, até porque o tempo é apenas um átimo.

A essência, a sabedoria, dos grandes pensadores está sempre presente entre nós; os adjetivos e os advérbios baldados, que correspondem às suas vaidades, a seus orgulhos, a seus pessimismos, ficaram para trás, antes das paredes de seus túmulos.

A não ser para os que seguem ao pé da letra o que escrito está, pouco importa que o Nazareno tenha transformado água em saboroso vinho; todavia, seja qual for a profissão de fé, até mesmo o herege e o ateu compreendem e valorizam O Sermão da Montanha como monumento didático ímpar, a ponto de algum iluminado afirmar que, “se tudo que até agora foi escrito se perdesse, sobrando apenas o referido discurso, tudo ressurgiria a partir das cinzas”, como a fênix.

Observe que o discurso é enfático: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Portanto, é preciso buscar o caminho na cartilha da humildade. E onde é encontrável? No presente, é claro! Ou, ainda melhor, é na certeza de que cada um está contido no presente, deslocando-se na velocidade da luz, devendo buscar o que traz a marca da essencialidade aqui e agora. Entretanto, se alguém quer para si o supérfluo, há de procurar restolhos de vaidade, no nevoeiro pesado que, como tal, não alcança a velocidade em que o presente navega.

Os ideários libertários dos iluminados são encontráveis no imo dos espíritos jovens de hoje, alguns deles iletrados que jamais tiveram contatos com os textos depositados nas melhores bibliotecas.

Contudo, o que de sabedoria se contém nos papiros esmaecidos pelo decurso do tempo ecoa no éter a serviço de assemelhados idealistas; os laivos de vaidade, de amor-próprio ou até de eventual pedantismo porque de menor valia, ficaram para trás perdidos no denso nevoeiro que alguns denominam de “passado”. Todavia, a essência das ideias está bem presente, ao alcance de quem estiver procurando verdade e luz. A sabedoria é irmã gêmea da verdade e ambas têm por veículo a luz. Todos sabem que somente a verdade traz consigo a libertação. Logo, quem busca a liberdade há de sair dos nevoeiros e das fuligens e procurar abrigo no ambiente luminoso onde a verdade habita. E quem ao menos puser a mão na orla do vestido da verdade alcançará conhecimento purificado pela sabedoria.

Daí que um bom veículo de comunicação se preocupa com o presente e com a atualidade, mantendo os leitores sob o foco luminoso do átimo.

As revistas são publicações periódicas, hebdomadários, mensais ou trimestrais destinadas à réplica das essências consideradas por muitos as mais relevantes e que mereçam ser relembradas.

Contudo, sempre presente, porque se é importante mostra-se incompatível com a ilusão do futuro ou lamentações do passado.

 

*O desembargador Romão C. Oliveira é presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios - TJDFT.