Primeiramente...

Servidora do TJDFT Sara de Freitas Teixeira
por Sara de Freitas Teixeira — publicado 2018-12-04T12:43:00-03:00

Primeiramente, explico que este texto e os outros dos colegas, expostos ao longo do mês, fazem parte de um conjunto de ações que chamamos de Consciência Negra no Judiciário. Ações pensadas por um grupo de servidores da Casa unidos à Justiça Comunitária - JC, após um curso sobre questão racial oferecido pela Escola Judiciária, ministrado pelos Juízes Fabio Esteves e Gláucia Falsarella Foley, e pelos servidores da JC, Calimério Júnior e Cida Santos.

Este é informal, um relato sobre o impacto e resultado do curso.

E foi assim:

Fui avisada do início das inscrições para o curso “O judiciário e o compromisso com a promoção da igualdade racial”.  Pensei que valia o esforço do deslocamento até a sede, ouvir mais sobre um tema com qual me identifico. Um tema que faz parte do meu dia-a-dia e da minha história, no meu lugar de negra parda. Abro parêntesis: lugar confuso e desconfortável de não preta e não branca, contudo não doloroso como o de outros tantos irmãos de pele escura. Fecho parêntesis.

Em parte, o curso me ajudou a sobreviver ao cenário de pré-eleições e a reafirmar minha opinião de que, no país, mais do que nunca, o debate sobre igualdade racial está sendo ridicularizado ao ser taxado, de forma mesquinha, de mimimi. As informações, passadas nas aulas, sobre a história do Brasil, estruturada no racismo, e sobre a atualidade do país, logicamente ainda estruturada no racismo, me fortaleceram para, se preciso, esbravejar que não é “coitadismo” a busca por reparação, e que existe sim uma dívida histórica do país para com os negros. Em contrapartida, me trouxeram mais desespero frente a posturas de autoridades políticas que fielmente acreditam no mito da democracia racial, e pouco caso fazem do extermínio do povo preto, ignorando estatísticas como a de que a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil.

Registro que já havia participado de dois eventos com a mesma temática, no TJ. Uma palestra com tema “As responsabilidades coletivas no enfrentamento ao racismo” e um workshop, com o mesmo tema, ambos em 2013. O palestrante, nos dois eventos, foi Edson Cardoso, um antigo mestre, militante do movimento negro desde os anos 70. Esse curso de 2018, contudo, me marcou pelo momento político, como já pontuei, e pelo maravilhoso encontro com colegas não só interessados em aprender, mas notadamente preocupados com a temática. É reconfortante encontrar colegas que realmente se importam com a questão racial no Brasil e no nosso ambiente de trabalho.

A equipe da Justiça Comunitária favoreceu ao, que considero, sucesso do curso. As “aulas” em forma de rodas, a dinâmica, os pequenos grupos de partilha, o vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi,  a atenção às falas de cada um, as provocações! Tudo convergiu para que, finalizado o curso, a turma se empenhasse em continuar unida, buscando atuar na Casa com ações de promoção da igualdade racial. E daí surgiram as ações que mencionei no início do texto, que incluem, além dos textos, a feira de produtos africanos dia 29/11, na sede, e o cine-debate dia 30/11, no Fórum de Ceilândia.

Existe um grupo no whatshapp maquinando...

Espero que consigamos nos manter empenhados e que mais servidores se juntem a nós!

 

* Técnico Judiciária, lotada na 3ª Vara de Família de Brasília.