Reflexões sobre o dia da Consciência Negra

Servidora do TJDFT Juliana Cal Auad*
por Juliana Cal Auad — publicado 2018-12-03T16:15:00-03:00

Juliana Cal Auad*

Participei do curso Promoção da Igualdade Racial, promovido pela Escola de Formação Judiciária e pelo Programa Justiça Comunitária, no final do mês de outubro e isso me abriu à possibilidade de perceber e compreender a temática da negritude com outros olhos.

Mesmo nunca me considerando racista e tendo a oportunidade de crescer em um ambiente em que o respeito é o pilar das relações, vejo com clareza que ainda há muito que eu posso fazer.

E não só eu como pessoa branca, mas brancos e negros, juntos, ainda há muito para caminharmos. Especialmente na esfera da Justiça, em que a igualdade deveria prevalecer. Infelizmente, não é o que percebo em minha praxis cotidiana. Trabalho na assessoria aos Juizados Criminais com fundamento ao artigo 28 da Lei 11343, sobre drogas.

Apesar de ainda não termos dados estatísticos sobre a identidade de raça dos jurisdicionados que atendemos, percebo que grande parte é de jovens negros de periferias do DF. Entretanto, não avalio este retrato como adequado dos usuários de drogas ilícitas. Porque os mais brancos e mais ricos chegam menos ao núcleo?

Essas reflexões me trazem ao lugar aonde estou agora, no momento em que escrevo este texto. Estou na cidade de Cartagena, na Colômbia. Aqui, há uma praça dentro da cidade murada. Espaço em que no passado, as pessoas negras eram negociadas como escravos. 

A praça mudou de nome várias vezes, a escravidão já acabou, mas os negros continuam lá. Vendem artesanatos, doces, vestem-se de roupas típicas para que os turistas batam fotos.  Lutam pela sobrevivência como podem. Na cidade de Cartagena, assim como em vários outros locais do mundo, as mãos negras continuam servindo aos mais brancos e aos mais ricos.

E no Brasil não é diferente. Lembro-me da visita que fiz a Porto de Galinhas, em Pernambuco, outro local onde se negociavam negros. Foi lá que o termo “para inglês ver” fez sentido. Quando a escravidão já tinha sido abolida, o comércio de escravos continuava. Descarregavam os navios cheios de galinhas e quando os ingleses iam embora, os negros eram “descarregados” para, após checada sua saúde, serem negociados para a venda.

E fico aqui pensando no termo negociação. Os negros vem sendo tratados como animais, como peças, como símbolo de status. Fingimos, todos os dias, que nos esquecemos de que são pessoas como nós. Escravizados, tiramos a sua humanidade.

E concluo fazendo coro ao que uma amiga diz, parafraseando a escritora e militante negra norte-americana Angela Davis, "em locais racistas não basta apenas não sermos racistas, é preciso sermos antirracistas”. Eu assino embaixo e vou continuar fazendo minha parte para ser uma pessoa antirracista. E você?

 

* Psicóloga lotada no Núcleo de Assessoramento a Magistrados sobre Usuários de Drogas - NERUQ