A Arte no TJDFT: Gênese de um acervo

Supervisora do Núcleo de Apoio à Preservação da Memória Institucional do TJDFT Betânia Martins Pitanga
por Betânia Martins Pitanga — publicado 2020-03-09T11:48:00-03:00

Sob um céu de horizonte infinito foi construída a cidade planejada para ser marco da modernidade do País. Brasília, a cidade ‘museu a céu aberto, síntese das artes’, possui um patrimônio arquitetônico e paisagístico reconhecido internacionalmente por suas linhas modernas e pelas obras de arte integradas à arquitetura, sendo as mais celebradas os murais de azulejaria assinados por Athos Bulcão.

O que poucos sabem, é que no interior de vários órgãos públicos, notadamente os edificados ao longo do Eixo Monumental, também residem relevantes acervos artísticos, repletos de pinturas, esculturas, gravuras, tapeçarias, entre outros objetos de arte.

Mas, o que justifica a presença dessas valiosas peças em instituições cujas missões institucionais não estão relacionadas à promoção da arte e da cultura?

As respostas para essa pergunta residem na história da construção de Brasília e todo ideário moderno que motivou a transferência da Capital Federal.

Após a virada para o século XX, as elites políticas e intelectuais brasileiras, estimuladas pela modernização do País, passaram a promover ações baseadas no entendimento da importância das artes, arquitetura e desenho industrial de mobiliário.

Nesse contexto, a constituição de acervos de arte para o interior dos prédios construídos na nova Capital não se tratava meramente de atos de colecionismo ou de decoração dos ambientes. Essas aquisições eram, sobretudo, parte da mesma política de estado que culminou na construção da cidade, e que visava, em última instância, a formação de uma nova sociedade brasileira. 

O acervo artístico do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios - TJDFT começou a ser adquirido em 1961, com a aquisição de trabalhos de grandes artistas nacionais, representantes dos mais importantes movimentos artísticos brasileiros, do modernismo até as primeiras expressões do contemporâneo.

A escolha das obras era feita de maneira criteriosa pelo então Presidente da instituição, Desembargador Hugo Auler, que, além da atuação jurídica, também foi o primeiro crítico de arte de Brasília.

Hugo Auler escreveu para o jornal Correio Braziliense durante duas décadas, de 1960 até 1980. Assinava a coluna diária Atelier e, a partir de 1967, passou a coordenar o Caderno Cultural, para o qual escrevia críticas mais extensas. Sob sua gestão, o acervo artístico e de mobiliário do TJDFT foi sendo paulatinamente adquirido e organizado. Até o início de 1973, quando Auler se aposentou como desembargador do TJDFT, foram adquiridas cerca de vinte obras de arte de renomados artistas brasileiros.

A coleção montada por ele reúne nomes que na época já detinham grande prestígio, como Di Cavalcanti e Emeric Marcier, figurativistas modernos, e Samson Flexor, precursor da abstração informal no Brasil; a artistas que ainda eram apenas jovens promessas da arte brasileira, como Yara Tupynambá e Rossini Perez, alunos de gravura de Oswaldo Goeldi; Rubem Valentim, que galgava seu espaço no caminho da arte construtivista; Glênio Bianchetti e Carlos Scliar, herdeiros gaúchos de uma arte de engajamento social cujo expoente foi Cândido Portinari; e o jovem Siron Franco, no início da busca por uma poética particular relacionada ao surrealismo. 

Após o falecimento de Hugo Auler, em 1980, o TJDFT deu continuidade à expansão do acervo. Na década de 1980, foram adquiridas obras de Milan Dusek, Carl Brussel e Gledson Amorelli. Em 2012, foi realizado concurso para aquisição de dezesseis obras de arte; e, desde 2013, o Memorial TJDFT - Espaço Desembargadora Lila Pimenta Duarte mantém calendário anual de exposições que resulta em doações por parte dos artistas expositores, conforme previsto em edital público. Atualmente, o Tribunal possui em seu patrimônio cerca de 120 obras de arte, número que está em permanentemente crescimento.

Em comemoração aos 60 anos de sua inauguração, o TJDFT apresentará ao público, pela primeira vez, 24 das principais obras de arte que deram origem ao seu patrimônio cultural em exposição intitulada A Arte no TJDFT: Gênese de um acervo. A mostra proporcionará aos visitantes um verdadeiro passeio pela história da arte brasileira. 

Betânia Martins Pitanga é supervisora do Memorial TJDFT – Núcleo de Apoio à Preservação da Memória Institucional - NUAMI/SGIC