Diário de uma mediadora
*Eva Cristiane Afonso de Oliveira
Hoje uma notícia me abateu. Dentre tantas lembranças das quais tenho das minhas partes em audiências, sempre tem aquelas que nos marcam um pouco mais. Umas alegres, outras tristes. A mediação te deixa no meio de duas partes, onde você, terceiro imparcial, tenta promover um acordo que fique bom para ambas as partes. Mas, como já disse em outro artigo, não lidamos apenas com processos, mas com vidas.
Na manhã desta segunda-feira, um genitor, dentre tantos que atendo, me retornou, com uma notícia de que a genitora de sua filha havia vindo a óbito. Cheguei a realizar outras audiências com esse casal. A primeira, quando ainda não existia Covid, foi presencial. Naquele dia, a genitora já havia me informado que fazia hemodiálise três vezes na semana. Pude comprovar de perto os relatos já ouvidos por pacientes com tal enfermidade. Não tem como não nos sensibilizarmos com a situação. Conseguimos resolver a situação do processo, mas a imagem, a história dessa parte ficou marcada em minha memória.
Já durante a pandemia, precisou-se realizar uma revisão de alimentos, quando vi os nomes das partes, já lembrei deles da primeira audiência, logo me veio a recordação do cenário já vivido por nós. A audiência, dessa vez, foi de forma online. As audiências onlines, nos permite viver o cotidiano das partes, entrar nos diversos lares, em diversos setores de trabalhos, partes devidamente uniformizadas, muitos gostam de explanar o que faz, mas nesse dia, a minha personagem estava em uma cadeira realizando uma hemodiálise, perguntei se ela queria remarcar, ela informou que dava para conversarmos.
Realizada a audiência, mas uma vez, as partes chegaram a um acordo. Os parabenizei, os abençoei e finalizei. Com a notícia de hoje, fica aqui meus sentimentos sinceros a toda família.
* Eva Cristiane Afonso de Oliveira é Servidora do TJDFT e mediadora