Desembargador Mariosi na aposentadoria do Desembargador Natanael Caetano

por ACS — publicado 2011-04-11T00:00:00-03:00
DISCURSO DO DESEMBARGADOR JOÃO DE ASSIS MARIOSI EM HOMENAGEM AO DESEMBARGADOR NATANAEL CAETANO, POR OCASIÃO DE SUA APOSENTADORIA

Desembargador Natanel Caetano
Estamos neste Ágape fraterno, em que se despede de V.Ex.a pelo fato da aposentadoria.
Na verdade, Ex.a, a aposentação é conjunta. A magistrada Dr.a Deleane Camargo também se retira do microcosmo judicial do TJDFT e ambos adentram no status de cidadania do mundo.

Se na expressão de Euterpe - a musa helênica da música, o casal era ótimo instrumentista, agora, afinadamente, sem compasso de espera, adentram o universo romano do ócio com dignidade.

Em Goiás e no candango Distrito Federal foram projetados seus ensinamentos e suas sentenças - algumas reiteradamente repetidas na mídia nacional e na Europa. São quarenta e um anos de decisões eternas pelo trânsito em julgado e pela segurança intrínseca de seus votos.

Na passagem forçada pelas sendas do tempo, V.Ex.a, se projetou em razão de seus méritos incontáveis, entre os quais a abalizada cultura jurídica, o que esteve comprovado em seus despachos monocráticos e nas resoluções colegiadas, garantindo-lhe respeitabilidade diante de seus Pares e nos círculos culturais do País.

A toga lhe não foi somente um paramento de borlas que revestiu sempre a dignidade dos magistrados. Pelos lustros de uso tornou-se de hábito adquirido em entitativo no sentido aristotélico - uma segunda natureza. A magistratura está inserida como DNA ergonômico.

Suas espirais não seriam passageiras, mas coloridas e identificadoras de um passado que se eterniza no presente da existência.

Já dizia Harry Emerson:
"A arte da aposentadoria não é aposentar-se de alguma coisa, e sim aposentar-se para alguma coisa."

Desembargador Natanael, descabe falar em história de sua vida, porque o viver é apenas a agregação de um dia sobre o outro. Não se pode falar em recordar, pois recordar é meditar sobre as pancadas cardíacas. O coração é muito metódico, trabalha e descansa independentemente dos dias e agora estamos neste convívio para melhorar a performance desse poderoso músculo.

Essa é a vantagem das pessoas marcantes: não deixam lembranças, mas são landmarks de experiência para os que ficam e para os que chegam. Estão sempre presentes em cada canto, em todo Tribunal.

No seu prísmeo equilátero existencial sempre houve a harmonia das funções: como magistrado, sempre agiu com o foco na Justiça, pelos dédalos do direito; como administrador, manteve-se dentro dos princípios da gestão moderna e conduziu o Tribunal nos trilhos da eficiência; como artista, criou novos sons tanto na musicalidade das palavras como na entonação das notas musicais, pouco importando as chaves de dó, de fá ou de sol. Dedilhou teclados com os mais diversos objetivos.

De sua meditação criativa podemos destacar que também teve pesadelos e sonhos de imitação da lua. Filosoficamente distingue o composto que se desfaz e o ?eu? que permanece e não morre.

Membro de academia literária escreve o "eterno suplício", onde, às vezes, o poema se torna preso nos versos do soneto - sempre uma obra completa.

Invoco a síntese para pinçar as palavras e frases, cujos significados estão sempre no verso:

"Se no mundo há algo que invejo
mesmo sabendo que anda sempre nua,
que de quebrada em quebrada pousa no brejo,
É a única a que invejo: A branca lua!?

"Eu te invejo por seres somente luz!"

Em "Pesadelo" demonstra o seu interior que estoura em tamanhos ciclópicos, fazendo uma mixagem de grandeza, mas que se atenuam no despertar da realidade, e se torna tenra e macia no compasso das reticências:
"...
Um fio que percorre a estrada negra
Que tem ao longe
Uma bem mansa e disfarçada curva
Onde repousa meu corpo
Em febre
...
como epiléticos seres de além túmulos
e meu corpo moído,
escorrega na aspereza da realidade,
tornando-a tenra...
macia...

No poema, " Eu Imortal" é bem direto, apodídico, objetivo
"nas diversas conjunturas
em que me deparei na vida,
pude ver que
continuo sendo eu.
No ruidoso silêncio de
minha consciência
criou personalidade o meu ser
para perpetuar o EU...
Assim, creio em meus valores
...
porque ainda sou eu."

Não se trata de análise literária, nem de despedida do casal, que andará pelo mundo e nos dará, de quando em vez, notícias de sua felicidade e alegria.
A fome do espírito foi sanada. As palavras de encômio foram ditas. Resta o compartilhamento do sangue dos Deuses, que nos chega pelas uvas. É a libação da vitória diuturna.

O casal poderá dizer com São Paulo: combati o bom combate: bonum certamen certavi e nós emprestamos a frase de Ruy: "Estremeceram a pátria, viveram no trabalho e não perderam o ideal"

Obrigado por me deixarem falar ( e como).
Mãos nas massas...!

"Todos gostariam de viver muito, mas ninguém gostaria de envelhecer."
Benjamin Franklin

"O segredo da felicidade consiste não em fazer o que se gosta mas em gostar do que se faz."
James M. Barrie

"Crime é obedecer às ordens injustas."
Voltaire ; "la France aurait eu la honte d'être un pays d'obédience. ..."

la France aurait eu la honte d'être un pays d'obédience. ...

"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as
transformamos em papel para registrar todo nosso vazio."
Khalil Gibran

O êxito de um bom dito depende mais do ouvido que o escuta do que da boca que o diz."
Shakespeare

"A arte da aposentadoria não é aposentar-se de alguma coisa, e sim aposentar-se para alguma coisa."

Harry Emerson Fordick