Encontro promovido pela VIJ-DF propõe melhorias aos serviços de acolhimento infantojuvenil

por Noriete Celi da Silva — publicado 2018-08-28T10:30:00-03:00

Encontro dos serviços de atendimentoAo final de dois dias de uma jornada de imersão, profissionais de entidades acolhedoras e de órgãos ligados à rede de proteção dos direitos da criança e adolescente elaboraram propostas de solução de problemas visando à melhoria dos serviços de acolhimento infantojuvenil no Distrito Federal. O trabalho coletivo foi fruto do Encontro dos Serviços de Acolhimento de Crianças e Adolescentes do DF – Desafios, Perspectivas e Soluções Criativas, realizado pela Vara da Infância e da Juventude (VIJ-DF) em parceria com a empresa Íthaka, nos dias 23 e 24/8, no espaço da Sociedade Eunice Weaver, na Asa Norte.

O evento foi promovido pela Rede Solidária Anjos do Amanhã, programa da VIJ-DF, e contou com a mediação e o apoio voluntário de facilitadores gabaritados em metodologias colaborativas, como design thinking, facilitação gráfica e coaching, entre outras, sob a coordenação de Bia Barros, cocriadora da Íthaka (conheça todos os facilitadores ao final da matéria). Após a etapa inicial de imersão, na qual foram trabalhados valores ligados ao autoconhecimento, à empatia, à colaboração e à experimentação, os participantes identificaram os desafios e as oportunidades do seu contexto e em seguida geraram ideias para propor novas soluções às questões levantadas.

Encontro dos serviços de atendimentoPara chegar aos planos de ação, os profissionais primeiramente sintetizaram as cerca de 400 ideias geradas pelo processo de brainstorming (tempestade de ideias) e elegeram prioridades. Foram formados quatro grupos com temas diferentes. A dinâmica de grupo consistiu em trabalhar o contexto do desafio em etapas: priorização do tema; identificação do desafio; pesquisa exploratória (o que mais é preciso saber sobre o desafio); insights; download no mapa da empatia (como os usuários percebem o desafio); identificação de oportunidades; ideação e prototipagem; e, por fim, elaboração do plano de ação (o que, quando e por quem). Todo o processo contou com o auxílio da equipe de facilitadores, por meio de abordagens e ferramentas inovadoras.

Os temas prioritários e seus respectivos desafios apontados pelos grupos foram “equipe” – como motivar a equipe (dimensão intraorganizacional) –; “rede” – como aproximar os atores da rede de proteção infantojuvenil (dimensão interorganizacional) –; “atenção à família” – como acolher bem as famílias das crianças e adolescentes (dimensão da atividade-fim) – e “perfil do adolescente” – como lidar com o adolescente infrator e sua situação de drogadição no acolhimento institucional (dimensão da atividade-fim). Cada grupo buscou materializar sua proposta em protótipos, utilizando teatro, massa de modelar, desenho, lego, etc, que foram apresentados e compartilhados com os demais participantes.Encontro dos serviços de atendimento

Entre as soluções propostas para vencer os desafios estão promover a qualidade de vida das equipes de acolhimento no trabalho através de escuta interativa, formações e reforço positivo; fortalecer a articulação da rede de atendimento por meio de visitas e formações; humanizar o acompanhamento às famílias, contribuindo para sua evolução sistêmica; considerar a história de vida dos adolescentes e investir em formação técnica, escuta qualificada e acompanhamento psicológico, além de outras ações. Na etapa final do processo, foram criados os planos de ação de cada grupo. Com a ajuda da facilitadora gráfica Louise Vendramini, cada grupo sintetizou em um grande cartaz todas as etapas trabalhadas no contexto do desafio. Também foi criado um cartaz representativo com o resumo dos temas, desafios e soluções de todos os grupos.

Avaliações do encontro

Segundo o supervisor da Rede Solidária Anjos do Amanhã, Gelson Leite, o encontro Encontro dos serviços de atendimentoaparentemente pretensioso foi assumido acreditando-se na equipe de facilitadores, na potencialidade das abordagens colaborativas e na sensibilização dos técnicos e dirigentes das entidades de acolhimento. “Entendemos que estava passando da hora de se reunir as equipes das instituições, a fim de olhar a realidade sob uma perspectiva mais amistosa e colaborativa”, afirmou. Na sua avaliação, o encontro deixou muitos saldos positivos, pois foi uma oportunidade para repensar paradigmas, entrar em contato com novas metodologias e ferramentas, além de favorecer a interconexão dos atores da rede de acolhimento de crianças e adolescentes e oportunizar que conversassem com outros atores do sistema de garantia de direitos infantojuvenis.

Bia Barros considerou que a jornada de dois dias promoveu aprendizados que os participantes poderão aplicar nas suas instituições, independentemente da realização dos planos de ação, embora espere que consigam apoio para implementá-los. “Trouxemos técnicas de trabalho em equipe que normalmente não são aplicadas no dia a dia das pessoas, que estimulam e Encontro dos serviços de atendimentoresgatam a criatividade, novas formas de relacionamento e motivam a ação”, explicou. Bia ressaltou ainda o aprendizado que levarão acerca da importância do autoconhecimento, da empatia e da colaboração. “Procuramos despertar nas pessoas o potencial de transformação que elas têm, para que sejam agentes de mudança onde quer que atuem”, completou.

Para Alison Pereira Oliveira, diretor dos Serviços de Acolhimento da Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do DF, o encontro foi bastante válido e necessário. “A rede de proteção deve se manter nesse movimento continuado de capacitação conjunta. Nesse momento de troca, em um processo participativo de construção, a gente consegue proporcionar metodologias de trabalho com maior efetividade para nossos acolhidos”, ponderou. Conforme o diretor, o encontro proporcionou momentos de construção coletiva de soluções a partir do levantamento de problemas que foram postos. “O grande ganho que eu vejo nessa capacitação é a organização dessa rede e o levantamento de possibilidades, com pensamentos concretos enquanto uma rede de proteção social”, avaliou.

A gestora das Aldeias Infantis SOS Brasil em Brasília, Patrícia Mello, disse ser muito importante que os profissionais da rede de acolhimento tenham momentos de troca, de formação, com a participação de pessoas de outras áreas que venham somar com visões, estratégias, técnicas e tecnologias diferentes. Segundo a gestora, apesar de ter sido realizado em apenas dois dias, o encontro possibilitou que os participantes se debruçassem em temas muito específicos da problemática dos serviços de acolhimento. “Foram dois dias extremamente produtivos, objetivos, com norte e condução muito propositiva, em que pudemos repensar nosso fazer e conseguimos sair com um produto densamente refletido e factível”, destacou.

Encontro dos serviços de atendimentoValdemar Martins, presidente da Casa de Ismael, considerou que as ferramentas aprendidas no encontro vão ajudar no trabalho, mas será preciso apoio e recursos para colocar todas as ações em prática. “Louvo a iniciativa da VIJ-DF em proporcionar esse tipo de treinamento, o que de forma isolada na rede é muito difícil de acontecer, e saio ansioso pela prática das propostas levantadas”, revelou. O presidente ressaltou ainda o fato de o clima do encontro ter sido de colaboração e compreensão mútua, sem acusações ou culpabilizações.

A coordenadora de acolhimento da Casa de Ismael, Vivian Queiroz, também considerou o encontro superprodutivo: “Adorei a iniciativa, que veio sanar muitas angústias profissionais e até pessoais no desenvolvimento das competências e das habilidades da equipe técnica dos serviços de acolhimento, com propostas em relação às diversas demandas que foram levantadas”. A coordenadora disse ainda que as ferramentas da capacitação servirão de auxílio na busca de estratégias para tentar resolver problemas como os enfrentados no acolhimento de adolescentes envolvidos com atos infracionais e drogas.

Ações efetivas

Conforme a facilitadora Bia Barros, o encontro também serviu para ampliar a rede de relacionamentos dos profissionais e facilitar o diálogo entre eles. “Esperamos ter dado a nossa contribuição para que os planos de ação que saíram desse encontro sejam de fato realizados, executados”, afirmou. Encontro dos serviços de atendimentoO supervisor da Rede Solidária Anjos do Amanhã também considera que foi plantada uma semente para ações efetivas, para uma verdadeira mobilização dos atores da rede de proteção infantojuvenil. “Esse encontro foi o ponto de partida. Há muito trabalho pela frente. E para realizar os planos de ação, precisamos juntar forças e aumentar nosso grau de conectividade”, alertou Gelson Leite.

Na visão do supervisor, o momento é favorável para aplicação do que foi discutido, pois o encontro contou com a ampla participação das entidades de acolhimento e repercutiu em toda a rede, inclusive nos governos local e federal e nos conselhos dos direitos da criança e do adolescente, por meio de seus representantes. “O encontro serviu para mobilizar a rede de proteção e renovou muito as esperanças dos atores envolvidos”, ressaltou. Segundo Gelson Leite, outro resultado relevante do encontro foi a criação de um fórum permanente, que vai abrigar importantes grupos de trabalho. “A Rede Solidária Anjos do Amanhã será a guardiã dos planos de ação. Vamos emplacar os encaminhamentos necessários, pois não dá mais para ficarmos no plano abstrato. Queremos apostar em ações efetivas, que realmente funcionem”, afirmou.

Encerramento

O encerramento do encontro, ocorrido na tarde da sexta-feira, contou também com a presença de outros representantes locais e nacionais da rede de proteção infantojuvenil, aos quais foi dada a missão de patrocinar e apoiar os planos de ação construídos no evento. Participaram desse momento Raqueline de Aguiar, representando a subsecretária de Promoção de Políticas para Criança e Adolescente do Governo do Distrito Federal, Perla Ribeiro; Viviane Ferro, coordenadora-geral dos Serviços de Acolhimento do Ministério do Desenvolvimento Social; Eustáquio Coutinho, assessor técnico da VIJ-DF; Andrecinda Pina, presidente do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal; e Lucimara Cavalcante, representante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Raqueline de Aguiar destacou que as ferramentas utilizadas no encontro são modernas, estimulantes e possibilitam resultados práticos. Ela falou ainda da importância de se avançar no trabalho para que as ações propostas cheguem às instâncias do poder decisório e consigam incluir toda a rede de proteção da criança e do adolescente de forma construtiva. “Foi um trabalho muito rico, que não se pode perder”, afirmou. Viviane Ferro também ficou surpresa com a qualidade do trabalho realizado em tão pouco tempo. “Precisamos de ferramentas assim, que sejam não só criativas, mas eficazes”, disse.

Encontro dos serviços de atendimentoEustáquio Coutinho falou da importância do acolhimento adequado, atencioso e afetuoso das crianças e adolescentes quando chegam à instituição de acolhimento: “O acolhimento adequado e o afeto recebido quando se chega à instituição representam meio caminho andado para que a criança ou o adolescente tenha um bom relacionamento com toda a equipe e os outros acolhidos na entidade”. O assessor técnico da VIJ-DF ressaltou ainda a necessidade de se ter atenção especial com as cuidadoras das crianças. “Às vezes as pessoas precisam ser ouvidas, e isso já as empodera, dá a elas outro ânimo”, refletiu.

Andrecinda Pina chamou a atenção para a necessidade de os profissionais terem uma postura aberta para acolher o novo, o diferente: “Preocupa-me essa visão que considera um padrão estabelecido como dentro da normalidade como sendo o certo. Temos de levar em consideração que o mundo está passando por transição e que muito provavelmente nós é que teremos que nos modificar para conseguir nos adequar aos novos comportamentos dessa nova geração. A gente é que precisa ter um olhar diferente e fazer com que essas pessoas novas nos aceitem como seus apoiadores para que possam se desenvolver e expressar toda a sua potencialidade”. Ela ressaltou ainda a relevância de uma comunicação mais humana, com compreensão mútua, para se construir algo diferente, dando importância às potencialidades humanas. “Espero que sejamos capazes de abrir nosso olhar para isso, e que nossas políticas públicas também olhem para o lado humano”, concluiu.

Lucimara Cavalcante solicitou ao GDF uma reunião técnica para tratar dos planos de ação propostos no encontro, a fim de que sejam realmente efetivados. Ela também sugeriu que seja feito um documento a ser deixado para o próximo governo, de forma que, independentemente de quem seja eleito, haja um compromisso com a continuidade dos planos de ação discutidos e propostos. Alertou ainda para a importância da participação dos profissionais da rede de acolhimento e de proteção nas discussões acerca de projeto de lei sobre convivência familiar e comunitária em andamento no Congresso Nacional. Para Lucimara, é importante que o Distrito Federal saia na frente, pautando a discussão. “Fizemos uma pesquisa qualificada que identificou quais são os desafios e as perspectivas para que esse sistema de acolhimento funcione de fato com qualidade”, disse. 

Ao final, os grupos realizaram a entrega simbólica dos planos de ação aos apoiadores presentes. O supervisor da Rede Solidária Anjos do Amanhã aproveitou o momento para agradecer à equipe de facilitadores – Bia Barros, Karmita Bezerra, Louise Vendramini, Rildo Santos, Eugênia de Athayde e Erika Rios – pela doação voluntária de seus trabalhos no encontro, bem como a todos os profissionais das entidades e da rede de apoio que atenderam ao chamado para participar do evento. Gelson Leite agradeceu ainda o apoio da Sociedade Eunice Weaver de Brasília, que cedeu o espaço para o encontro, da Casa de Biscoitos Mineiros e da Sweet Cake, que contribuíram com parte do lanche servido aos participantes nos dois dias de evento.

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