TJDFT lança curso de educação financeira para vítimas de violência doméstica em São Sebastião

por JO — publicado 2018-09-10T16:30:00-03:00

TJDFT lança curso de educação financeira para vítimas de violência em São SebastiãoNa última quinta-feira, 6/9, o TJDFT lançou o curso gratuito de educação financeira “Não sou Gabriela-NSG”, fruto de acordo celebrado com a OSCIP Programa Providência de Elevação da Renda Familiar, numa parceria com a Fundação Banco do Brasil. O curso é voltado especialmente para vítimas de violência, atendidas pelo Juizado de Violência Doméstica de São Sebastião, e demais mulheres daquela comunidade.

A ação visa promover a revisão de hábitos financeiros prejudiciais e estimular os participantes a poupar, contribuindo para o empoderamento das pessoas residentes em regiões de elevada vulnerabilidade, por meio de atividades de sensibilização, diagnóstico e análises sobre o comportamento financeiro do usuário. O NSG já está em sete cidades do DF, e São Sebastião sedia a primeira parceria com o TJDFT.

A aula inaugural aconteceu no Fórum de São Sebastião e contou com a presença da juíza titular do Juizado de Violência Doméstica da circunscrição, Rejane Suxberger; do juiz do Tribunal do Júri do Núcleo Bandeirante e Presidente da Associação dos Magistrados do DF – AMAGIS/DF, Fábio Esteves; da coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e de Cidadania Superendividados – CEJUSC-SUPER, juíza Caroline Lima; e da juíza titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Santa Maria, Gislaine Reis, que representou o Núcleo Judiciário da Mulher – NJM.

osé Luiz Bianco Júnior, juíza Gislaine Reis, juíza Rejane Suxberger, juíza Caroline Lima e juiz Fábio EstevesO evento foi aberto pela juíza Rejane Suxberger, idealizadora da ação no TJDFT: “Quando conheci o projeto NSG, percebi como seria interessante fazer um trabalho preventivo, não só na questão da violência, mas na possibilidade de empoderamento da mulher e de toda a comunidade. A dependência financeira é um problema que acaba gerando a violência. Nosso papel no Judiciário não é apenas julgar processos; a gente precisa ir além, trabalhar a realidade com a comunidade”. Na ocasião, a magistrada destacou o apoio do projeto do Ministério Público do DF “Promotoras Legais Populares”, que capacita mulheres em educação popular, e da Rede Social de São Sebastião na divulgação da ação.

O projeto contou ainda com a participação dos agentes comunitários de Justiça e Cidadania, do Programa Justiça Comunitária do TJDFT, que, entre outras funções, desenvolvem a mobilização das redes sociais em suas cidades.  “Ajudei a mobilizar a comunidade e vou participar do curso com a expectativa de que, aprendendo a administrar melhor nosso dinheiro, nós mulheres vamos nos sentir mais fortes, ativas e participativas”, afirmou a agente Armanda Lima.

Para José Luiz Bianco Júnior, presidente da OSCIP, parceira do TDJFT, embora o curso seja aberto para todos os gêneros, o público majoritariamente feminino se deve ao fato de que a mulher, geralmente, é quem “carrega a família e transmite lições e atitudes para outras gerações”. E realçou: “A pedra fundamental do NSG está na mudança de comportamento. Não adianta falar e repetir ‘cuidado pra não gastar demais, cuidado com cartão de crédito...’. Isso todos sabem. Propomos mudar hábitos e transformar famílias. Diferentemente de outros cursos, acompanhamos o desenvolvimento, o depois, e estimulamos as pessoas a refletirem sobre qual é o seu sonho”.

A mudança de comportamento, que é inspiração para o nome "Não Sou Gabriela”, foi explicada por Max Brito Coelho, facilitador do curso, como alusão à canção de Dorival Caymmi, eternizada na voz de Gal Costa. “Pode-se nascer assim, e até se crescer assim... mas a gente não precisa morrer assim!”. Max provocou a plateia com questionamentos sobre possíveis situações de risco ao longo da vida para as quais, quem não aprende a poupar, geralmente não está preparado. “O  NSG nasce de duas premissas: uma é que a educação financeira não tem chegado a grupos mais vulneráveis, seja por baixa renda ou por baixo acesso à informação. Outra: não basta palestra falando sobre dinheiro. É preciso sensibilizar esse público sobre a importância de, a partir da mudança de hábitos, buscar equilíbrio na sua relação com o dinheiro”.

Lilian Maria Alves e o facilitador Max BritoDurante o evento, Maria Alcileide da Silva, desempregada há dois anos, afirmou que viu no curso uma oportunidade, uma vez que com a quantia que consegue ganhar eventualmente como diarista não cobre suas despesas com seus dois filhos menores. “Minha tia Luziene Guedes, que é agente comunitária, viu meu desespero e me chamou. Quero descobrir nesse curso como ver melhor as oportunidades, melhorar minha vida e passar o que aprender para meus filhos”.

Para Lilian Maria Alves, 51 anos, costureira e moradora do Jardim Botânico, o curso é uma forma de provar para si que é capaz de reconstruir sua vida. Portadora de doença renal crônica desde criança, a costureira conta que sempre trabalhou muito e administrou bem seu dinheiro, até que, há alguns meses, adoeceu gravemente. Lilian descobriu nove miomas e nenhuma reserva financeira para o tempo em que não conseguia trabalhar. “Vi uma reportagem sobre o projeto na TV e vim pra cá trazida pela esperança. Quero me reeducar, saber trabalhar, poupar e reconstruir minha vida. Vou mostrar pra mim mesma do que sou capaz, como sempre fui”, concluiu.

O curso “Não Sou Gabriela” acontecerá a partir de 15/9, em doze aulas presenciais, aos sábados, das 14h30 às 16h30, na  Faculdade Fortium, em São Sebastião. Mais informações e inscrições pelo número 3321-1762 e pelo site http://www.naosougabriela.com.br.