Racismo e violência de gênero são tema de webinário comemorativo à Lei Maria da Penha

por CS — publicado 2020-08-07T14:46:00-03:00

WhatsApp Image 2020-08-07 at 11.46.32.jpegComeçou nesta sexta-feira, 7/8, o Ciclo de Webinários em celebração aos 14 anos da Lei Maria da Penha, uma ação promovida pelo Núcleo Judiciário da Mulher – NJM e pela Escola de Formação Judiciária do TJDFT, que continua até o dia 11/9, com transmissão pela plataforma digital Zoom, sempre às sextas, das 9h30 às 11h30.

A primeira edição contou com a participação das professoras Gina Vieira de Albuquerque, da Secretaria de Educação do DF, e Marjorie Nogueira Chaves, da Universidade de Brasília – UnB, que falaram sobre os impactos do racismo na violência de gênero.

Na ocasião, o juiz Ben-Hur Viza, coordenador do NJM e titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Núcleo Bandeirante, ressaltou que a violência contra as mulheres negras não está sendo alcançada suficientemente pelas políticas públicas e pela legislação do país. Com o ciclo, o magistrado considera que “o TJDFT e demais parceiros do tribunal trazem relevante contribuição para a formação de seus magistrados, servidores e profissionais das instituições atuantes na Rede de Proteção às Mulheres”.

De acordo com a professora Marjorie Chaves, mestra em História pela UnB, a forma como a violência doméstica é sentida por mulheres brancas e negras é diferente, mas, segundo ela, a violência afeta todas as mulheres, negras, brancas, amarelas (asiáticas), indígenas ou trans. A estudiosa destacou que os casos de violência podem ter início na infância e reforçou que esta constitui uma das principais formas de violação dos direitos humanos, pois atinge os direitos das mulheres à vida, à saúde e à integridade física.

“Ao longo dos últimos anos, a violência de gênero tem diminuído para as mulheres brancas e aumentado para as negras. Apesar de constatarmos que a violência afeta mulheres de todas as classes sociais, é necessário reconhecer que as de classes mais vulneráveis podem ter maiores barreiras para sair dessas situações”, observou ela.

Professora de educação básica, em Ceilândia, há 29 anos, Gina de Albuquerque falou sobre os desdobramentos no processo educacional e as contribuições da escola na redução dos casos de violência contra a mulher negra. Segundo ela, o Brasil é um país negro, com 56% da população negra, mas que não se reconhece como tal. Ademais, “48% desta população atua em trabalhos informais e tudo isso influencia no processo histórico de precarização da vida de estudantes negros”, conclui a palestrante.

Para a professora, ao longo dos anos e dos séculos, construiu-se no imaginário das meninas que o ideal de vida deve ser o casamento, o lar e os filhos, com destaque para a projeção do homem como herói. Todo esse cenário, segundo ela, reforçado pela figura do homem branco europeu. Como consequência, ocorre um processo de evasão escolar das meninas, que acreditam que o casamento é a fonte de salvação de suas realidades precárias.

“A mudança dessa realidade só é possível com a criação de políticas que envolvam a distribuição de renda para as famílias, trazendo o recorte de raça e gênero, com vistas à permanência das meninas na escola”, pontuou Gina. “Não conseguiremos mudar nossa cultura machista e misógina se os nossos materiais didáticos continuarem sendo brancos e eurocentrados”, acrescentou.

Gina de Albuquerque coordena o projeto Mulheres Inspiradoras, que tem como objetivo o letramento crítico, baseado na leitura e escrita autoral, e o estudo da biografia de grandes mulheres e escritoras negras e mulheres periféricas. A iniciativa começou em sete turmas de Ceilândia e atualmente atende mais 51 escolas, em todo o DF, tendo sido levada, inclusive, para fora do Distrito Federal. A professora acredita que as meninas precisam conhecer e aprender a valorizar o legado das figuras femininas que fazem parte de suas vidas, para, assim, construírem futuros diferentes e serem protagonistas de suas próprias histórias.

O ciclo de webinários está com as inscrições abertas, no site da Escola de Formação Judiciária ou clicando aqui. Confira a programação completa e participe.