ONU Mulheres aborda meios de comunicação e estereótipos de gênero em webinar do TJDFT

por CS — publicado 2020-06-30T14:48:00-03:00

webnario.jpgO TJDFT, por meio da Escola de Formação Judiciária - Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, realizou, na manhã desta terça-feira, 30/6, o webinar "Meios de comunicação e a reprodução dos estereótipos de gênero", com a jornalista e representante da ONU Mulheres, Isabel Clavelin. A atividade, transmitida ao vivo por meio da plataforma digital Zoom, integra o curso Desafios da cobertura jornalística sobre violência contra a mulher. A ação, voltada para jornalistas e estudantes de jornalismo, foi mediada pela juíza do TJDFT Luciana Lopes Rocha, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher – NJM e titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Taguatinga.

Na fala inicial, a convidada fez um apanhado histórico sobre a discussão das questões de gênero, em âmbito mundial, ao longo do século 20. Em seguida, falou a respeito da Agenda 2030 - Planeta 50-50 para o desenvolvimento sustentável do mundo, da Organização das Nações Unidas – ONU. O documento prevê uma série de objetivos, entre eles a eliminação da violência contra a mulher, que devem ser alcançados pelos mais de 190 países signatários.

Clavelin lembrou que a ONU predeterminou, em um tópico específico, a discussão a ser feita pelos Estados membros sobre mulher e mídia. “Nós precisamos reforçar nossos compromissos com o planeta e, dentro desse conceito, nenhuma vida é descartável”, disse ela. “Planeta 50-50 significa paridade de gênero. Não é 30-70, 40-60, é meio a meio, equilíbrio. O apelo da ONU Mulheres é para que os países integrantes desse pacto realizem ações para o fim da violência de gênero”.

A representante da ONU destacou que os meios de comunicação têm um papel crucial quanto à reprodução de estereótipos, de modo que os países consigam, com essa análise, eliminar a desigualdade de gênero e raça em seus veículos de comunicação. Segundo ela, além da perspectiva de gênero, têm-se, ainda, a perspectiva de cor. “Na publicidade brasileira, 42% dos anúncios retratam mulheres, das quais 64% são brancas e 25% negras. Os números vão além. Dentre os 25% das protagonistas negras, 47% tem traços negróides, ou seja, com características negras mais marcantes. O que demonstra que a representatividade negra aceita está ligada aos fenótipos mestiços ou o que chamamos de embranquecimento dos negros”, ressaltou Isabel.

Para a palestrante, a mudança no discurso é o caminho para romper os estereótipos de gênero, raça e etnia, seja nas redes sociais, entre as autoridades públicas, até nas conversas corriqueiras. Além disso, ressaltou a necessidade de trazer representações de ambos os gêneros em situações equitativas, pois, segundo ela, não há como se falar em relações equânimes sem trazer os dois gêneros aos produtos de comunicação. “É muito importante falar sobre comunicação, prevenção e eliminação da violência contra as mulheres e trazer, cada vez mais, essa discussão de uma forma mais forte para a população”.

Isolamento e violência

A juíza Luciana Lopes Rocha lembrou que, com o isolamento social, causado pela pandemia da Covid-19, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam uma subnotificação no número de denúncias de violência doméstica, ao passo que ocorreu um aumento de chamadas de emergência para o 190, da Polícia Militar, bem como aumento em 431% nos relatos feitos por vizinhos nas redes sociais de percepção sobre episódios de violência doméstica.

“Nossa preocupação é disseminar ainda mais o 190, porque num momento de emergência, de agressão em andamento, esse é o canal mais rápido e eficaz de o vizinho ou familiar denunciar caso de violência doméstica, para resposta rápida para proteção da mulher", pontuou a magistrada.

Na oportunidade, a juíza citou outra importante iniciativa, nesse momento de distanciamento social, que é a Campanha Sinal Vermelho contra a violência, idealizada pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e a Associação dos Magistrados do Brasil – AMB, que tem apoio do TJDFT e é realizada em parceria com mais de 10 mil farmácias de todo país. "O objetivo é disseminar para o maior número de pessoas possível a possibilidade desse canal de denúncia silenciosa".

A campanha tem perfil nas redes sociais Twitter, Instagram e Facebook e consiste num gesto simples. Basta que a mulher vítima de violência desenhe um “X” na mão e mostre ao atendente de qualquer farmácia participante da campanha. A partir daí, a polícia será contactada.

O curso Desafios da Cobertura Jornalística sobre Violência contra a Mulher foi iniciado no dia 5 de março e contou com webinários sobre Lei Maria da Penha e as Medidas Protetivas de Urgência e sobre Percepções quanto ao impacto das notícias nos envolvidos em processos judiciais.

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