Especialistas discutem desafios da cobertura jornalística sobre violência contra a mulher

por CS — publicado 2020-03-10T15:57:00-03:00

aula-inaugural-violencia-domestica.jpgO TJDFT realizou nesta terça-feira, 10/3, a aula inaugural do curso Desafios da Cobertura Jornalística sobre Violência contra a Mulher, que contou com a participação da antropóloga e professora da Universidade de Brasília, Lia Zanotta, e da jornalista e pesquisadora Marisa Yoshie Sanematsu, coordenadora editorial e fundadora do Instituto Patrícia Galvão, organização civil que é referência nacional e internacional sobre o tema da violência contra as mulheres no Brasil.

O evento, que integra a programação da 16ª Semana Nacional da Justiça pela Paz em Casa, foi organizado pela Assessoria de Comunicação Social em parceria com o Núcleo Judiciário da Mulher – NJM e apoio da Escola de Formação Judiciária Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

A abertura dos trabalhos foi feita pela juíza do TJDFT Luciana Lopes Rocha, uma das coordenadoras do NJM e titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher - JVDFCM  de Taguatinga. “O art. 8 da Lei Maria da Penha traz de forma muito clara a importância da integração operacional de todos nós, Poder Judiciário, Defensoria Pública, MPDFT, Segurança Pública e mídia, trabalhando juntos, por meio dessa união de sociedade civil e órgãos estatais, para conseguirmos de fato avançar no enfrentamento à violência contra a mulher”, disse a magistrada.  

De acordo com a juíza, “o debate com os profissionais da imprensa é importante para que o conteúdo das matérias vá além da simples notícia do fato, mas, especialmente, traga um olhar da mídia como rede de proteção às vítimas”.

aula-inaugural-violencia-domestica-1.jpgA professora Lia Zanotta, por sua vez, lembrou que existe um paradoxo quando se fala em violência de gênero e feminicídio. Na visão dela, é curioso como, ao mesmo tempo em que o número de casos de mulheres assassinadas por sua condição de mulher tem aumentado, a sociedade também se mostra cada vez mais sensível ao absurdo que é o fato desses assassinatos ocorrerem por uma questão de gênero. “Apesar disso, noticiar é importante. Mais que isso, é importante acabar com essa ideia de crime passional”, ressaltou a especialista. 

Segundo Zanotta, a violência que está na Lei Maria da Penha é uma violência baseada em poder de gênero. “É um crime de poder. Quando um homem tem seu poder questionado, ele acredita que pode recuperar esse poder atentando contra a vida da mulher. Vai muito além de posse e controle. É uma questão de prestígio masculino”, acrescentou. Um comportamento que precisa ser combatido.

aula-inaugural-violencia-domestica-2.jpgPara Marisa Sanematsu, quando a morte acontece, significa que o Estado falhou: “a sociedade falhou, alguém falhou, porque o feminicídio é o ápice de um processo de violência que começou lá atrás”, disse. A jornalista trouxe para o público exemplos de reportagens antigas e atuais sobre crimes de violência contra a mulher e feminicídio que vitimizam os autores das agressões ou mortes, colocando a mulher como culpada pelo crime sofrido, além de reafirmar estereótipos patriarcais que reforçam os comportamentos dos agressores. 

“A sociedade vem falhando na educação das gerações atuais e das próximas e a imprensa tem o papel de cobrar isso. Cobrar educação de gênero nas escolas, campanhas sobre a Lei Maria da Penha. Além disso, o profissional da imprensa não pode ser um violador dos direitos da mulher enquanto vítima de violência", afirmou a palestrante, ao destacar, por fim, que a mídia é uma grande parceira nesse processo de enfrentamento à violência contra a mulher, desempenhando papel estratégico na divulgação dos fatos com ética e responsabilidade.

O curso continua nos próximos dias 17 e 24/3. Na próxima semana, os convidados são a jornalista Isabel Clavelin, da ONU Mulheres, e o juiz Ben-Hur Viza, coordenador do NJM e titular do JVDFCM do Núcleo Bandeirante. Na ocasião serão debatidos o papel dos meios de comunicação e a reprodução dos estereótipos de gênero.

As atividades da Semana Justiça pela Paz em Casa, no TJDFT, seguem até o dia 31/3 e a programação completa pode ser acessada aqui. Participe. O combate à violência contra a mulher é uma luta de todos nós.

Foto: Samuel Figueira - Proforme/Divulgação TJDFT