VIJ-DF destaca que adoção monoparental ainda é minoria no DF

por SECOM/VIJ — publicado 2021-09-08T13:58:00-03:00

Marina Gonzaga adotou sozinha o pequeno Murilo em 2021. A mãe é uma das seis pessoas que optaram neste ano por realizar a chamada adoção monoparental, quando apenas um pretendente acolhe uma criança ou adolescente. Dados da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara da Infância e da Juventude do DF (SEFAM/VIJ-DF) indicam que o quantitativo de adoções pleiteadas por famílias monoparentais ainda é reduzido. Elas representam entre 6 e 14% do total de adoções realizadas no DF nos últimos cinco anos. Em 2020, das 65 adoções, quatro foram feitas por pessoas solteiras, o que equivale a pouco mais de 6%.

Audiodescrição: Infográfico: Infográfico Adoção Monoparental no DF. Fundo branco. No primeiro plano, dados sobre a adoção realizada por requerentes solteiros no DF entre 2016 e 2020.A partir da Constituição de 1988, a unidade familiar composta por um único adulto passou a ser reconhecida como legítima. “É mais uma configuração do ambiente familiar, o que nos leva à compreensão de que a família não é apenas aquela decorrente do vínculo conjugal”, explica o supervisor da SEFAM, Walter Gomes. Apesar da previsão legal, o servidor da área de adoção da VIJ-DF acredita que ela ainda é pouco conhecida, o que pode contribuir para o número reduzido de acolhimentos monoparentais concretizados. “Persiste a percepção, no conjunto da sociedade, de que apenas casais podem recorrer ao instituto da adoção”, esclarece Walter.

Dentro das adoções monoparentais efetivadas, destacam-se as realizadas por requerentes do sexo feminino. Das 44 adoções desse tipo entre 2016 e 2021, apenas três foram concluídas por postulantes do sexo masculino. Segundo Walter, apesar do número reduzido, as pessoas solteiras que procuram a Vara em busca da adoção monoparental mostram-se engajadas na preparação para acolher a criança ou adolescente e atentas às recomendações para o sucesso da adoção.

A opção por ser mãe solo

Foto "A opção por ser mãe solo" - Foto - Fundo com a fachada de instituição de acolhimento no DF com inscrição dos dizeres "Lar Bezerra de Menezes". No primeiro plano mãe (Marina Gonzaga) com o filho no colo (Murilo)Marina Gonzaga se apaixonou pelo filho quando ainda nem imaginava que seria sua mãe. “O Murilo despertou um tipo de amor que nunca tinha sentido na vida”, lembra ela. O menino nasceu com hidranencefalia e, logo nos primeiros dias de vida, precisou de cuidados médicos. Técnica de enfermagem, Marina compunha a equipe que cuidou do recém-nascido na UTI neonatal do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). 

Em meio ao tratamento, ela descobriu que Murilo seria destinado a uma instituição de acolhimento onde aguardaria pela adoção após a alta médica. “Quando me contaram isso, me bateu um sentimento: eu quero ser a mãe dele”, relata. Marina começou a reunir documentos para se habilitar à adoção, fez ajustes em casa para receber o menino, mesmo sabendo que, ao procurar uma família para Murilo, a VIJ-DF iria respeitar a fila de pretendentes já habilitados. “Pensei: se não for pra ser meu filho, ele já abriu meu coração pra esse amor que eu não conhecia. Meu coração estava aberto pra adotar qualquer criança com deficiência”, conta Marina. Mesmo com esse pensamento, a separação de Murilo quando ele deixou o hospital foi dura. O menino aguardou no Lar Bezerra de Menezes até que entre as famílias abertas ao seu perfil uma aceitou recebê-lo: a mesma Marina.

Rede de apoio

Foto "Rede apoio" - Montagem de seis fotos - Pessoas que integram a rede de apoio de Marina, personagem da matéria. Na parte superior esquerda, a tia com Murilo no colo; ao centro, a prima com Murilo no colo; à direita, colegas de trabalho com o menino. Na parte inferior esquerda, o pediatra e a mãe com Murilo no colo; ao centro, amigos com Murilo; à direita, a comunidade da igreja, a mãe e Murilo.“O exercício da maternidade é algo espetacular. Comecei a renovar forças em mim, a descobrir outras que não sabia que tinha”, divide Marina. Mesmo com a felicidade de ser mãe, ela não esconde os desafios da adoção monoparental. “Ele quem faz o meu tempo. A minha vida não é mais minha. Estou de licença-maternidade dedicada a cuidar exclusivamente dele, é minha prioridade”, compartilha a mãe. As rotinas da casa precisaram ser adaptadas para a chegada do filho, assim como o próprio cotidiano da mãe para atender as demandas naturais de um bebê. “Ele precisa de cuidado, chora à noite. Ainda precisamos lembrar do cansaço do dia a dia, porque mãe ama, mas também cansa. Essa é a adoção real”, completa ela. Adicione-se a isso os cuidados necessários devido à hidranencefalia de Murilo.

Para ajudá-la na tarefa de mãe, Marina conta com uma rede de apoio que se formou mesmo antes da adoção. “Esse suporte é muito importante. Mas uma coisa da qual eu sempre tive consciência é de que precisava dar conta das minhas obrigações. As ajudas são ótimas e vieram de todos os lugares, mas elas podem não vir”, explica a mãe de Murilo. O grupo de apoio começa na família, com a irmã Maria Rosa Gonzaga e a sobrinha Ana Cristina, que o incluíram nos laços familiares e encheram o sobrinho/primo de mimos. Dos colegas de trabalho, além do apoio à ideia de adotar, ela contou com ajuda para a compra das medicações necessárias ao menino, para a recepção do filho em casa. Murilo ganhou inclusive o acompanhamento gratuito do pediatra Zaconeta. Soma-se o apoio emocional de amigos como Karina e Ricardo Iglesias e da comunidade da igreja que frequenta.

Foto "Adoção" - Foto - Mulher (Marina), com o filho no colo (Murilo). Sob a imagem, o ícone "play" para acesso a vídeo.Adoção

Marina também é filha adotiva e foi acolhida com pouco mais de um ano. “As histórias vão se misturando. Eu acredito que essa questão de ser filha adotiva teve efeito na minha decisão de adotar. Influenciou não no sentido de eu adotar por ter sido adotada, mas por eu ter sido tão bem tratada, criada com amor, registrada como filha legítima e ter o sobrenome da minha família”, divide ela. A mãe de Murilo conta que a família adotiva é um marco, uma referência na sua vida. 

A primeira semente para adotar veio em 2008. Marina era voluntária em uma iniciativa da Igreja Católica quando teve contato de perto com a Campanha da Fraternidade – ação ecumênica realizada pela CNBB na Quaresma – que tinha como tema “Fraternidade e vida” e como lema “Escolhe pois a vida”. “A campanha me tocou muito. Chamava minha atenção essa ideia de sermos a favor da vida. Acho que a adoção tem muito a ver com isso. Desde lá, ficou algo que foi aquecendo em mim”, compartilha. A mãe de Murilo conta que a pandemia mexeu com essa ideia gerada em 2008. “Ela veio para mudar muita coisa na nossa vida. Fiquei pensando nas crianças necessitadas de um lar em meio à pandemia”, declara Marina. Para ela, a adoção do Murilo foi a realização daquele desejo que foi crescendo.

Saiba mais

Clique e saiba mais sobre adoção monoparental em episódio do podcast Prioridade Absoluta, uma produção da Seção de Comunicação Institucional da VIJ-DF, em parceria com a Assessoria de Comunicação Social do TJDFT.